A Internet como Memória

João Canavilhas

Universidade da Beira Interior


Índice

Abstract: No dia em que a British Pathe1 colocou todo o seu arquivo na World Wide Web foi dado mais um importante passo no sentido da afirmação da Internet como memória colectiva da Humanidade. Cerca de quatro horas depois do lançamento do site já se registavam cerca de 15 mil acessos e 3500 downloads de filmes.

Outro projecto que revela a importância da Internet como memória é o projecto MyLifeBits2, liderado por Gordon Bell. Este projecto, desenvolvido pelo Media Presence Research Group, recupera uma ideia de Vannevar Bush que, num artigo3 publicado em 1945, introduziu o termo ``Memex''4 para designar um equipamento digital que permitiria arquivar livros, mensagens, gravações e comunicações pessoais, dispondo ainda de um sistema de pesquisa rápido e flexível.

Um e outro caso são exemplos que se juntam às dezenas de fóruns de discussão, às centenas de bibliotecas e museus on-line e aos milhares de mass media que todos os dias colocam na web informações sobre os acontecimentos mais marcantes do dia. Mas esta enorme quantidade de informação disponível não é, só por si, uma marca distintiva da Internet em relação aos outros mass media. O que a distingue é a possibilidade desse arquivo ser imediato e global, reduzindo o espaço e o tempo a um momento.

Introdução

Apesar da inegável possibilidade da Internet funcionar como uma memória colectiva de cariz global e imediato, há pelo menos quatro características identificadas por Gordon Bell [cf. BELL, s/d] que podem constituir um obstáculo à utilização da Internet como memória.

Longevidade do suporte - Se o papel pode resistir séculos e a película décadas, os formatos digitais deixarão de ser legíveis dentro de 10 ou 20 anos. Não está em causa a qualidade dos suportes de armazenamento mas as tecnologias que, ao ritmo actual, dentro de duas décadas estarão completamente obsoletas. Os conteúdos digitais obrigam conversões para novos formatos porque os antigos formatos desaparecem muito rapidamente. As disquetes, por exemplo, são hoje um suporte obsoleto para quem tem um Macintosh.

Acesso - O acesso à informação pessoal deve ser rápido e confidencial. No caso das informações pessoais exige-se privacidade. No que concerne à produção intelectual é importante que se consiga manter algum controlo sobre o acesso e utilização dos conteúdos disponíveis nas bases de dados.

Ferramentas de pesquisa para informação não textual - Um dos problemas que ainda se tenta resolver neste momento é a pesquisa de informação não textual. A procura de fotos, por exemplo, está sujeita ao sistema de indexação estabelecido pelo arquivista. O que pesquisa é o nome do ficheiro e não o conteúdo dele.

No caso imagens em movimento a questão ainda é mais pertinente na medida em que vários segundos de imagem estão catalogados numa tipologia genérica sendo impossível referir todos os pormenores década frame do bloco de imagens.

Usabilidade - É essencial que as mensagens visuais guiem o utilizador na procura de informação. Uma base de dados digital deve responder a quatro perguntas fundamentais: Onde estou? Até onde posso ir? Como chego lá? Como regresso a um ponto anterior?

Estas quatro questões são de ordem técnica, mas têm repercussões na arquitectura e sintaxe5 dos sistemas. Pouco adianta que a base de dados contenha muita informação se o utilizador não conseguir aceder a ela de uma forma amigável. O objectivo de qualquer sistema é permitir que o indivíduo cumpra um processo interactivo completo sem que se registe qualquer breakdown6.

A Memória no Homem e na Internet

Ao analisarmos a memória devemos separar dois aspectos distintos: por um lado a memória-arquivo, por outro o mecanismo - fisiológico ou numérico - que permite a pesquisa.

i. Hardware: na internet entende-se por hardware o conjunto de todos os componentes informáticos do servidor, com particular destaque para os discos onde se estão alojadas as páginas web. No caso do corpo humano entende-se por hardware o cérebro por ser esta a estrutura que guarda a informação.

ii. Software. Na internet, o browser e a base de dados são os softwares que permitem a navegação e a pesquisa de informação, respectivamente. No corpo humano os sentidos funcionam como browser e a recordação como base de dados que organiza na memória as imagens das coisas.

Esta analogia entre hardware e o software dos seres de carbono e os de silício pode ser estendida a outros campos. Na verdade é possível verificar a existência de semelhanças e dissemelhanças entre o funcionamento da memória no homem e na internet.

Semelhanças

Uma das semelhanças relaciona-se com o esquecimento, considerada como a forma fisiológica da memória apagar dados. Na web o esquecimento está geralmente relacionado com a quebra das hiperligações. A frase ``The page cannot be displayed'' significa que uma determinada porção de informação, isto é, uma parte da memória, não está disponível porque mudou de local ou porque o servidor onde se encontra guardada está desactivado. Uma situação muito habitual quando se faz uma procura num motor de busca7 é encontrar uma hiperligação morta, isto é, uma página web que aparece referenciada pelo motor de busca mas que depois não está disponível naquele endereço.

Esta situação é semelhante ao funcionamento da memória humana descrito por Santo Agostinho nas Confissões. [cf. S. AGOSTINHO 20018]

``Se, por acaso, alguma coisa, como qualquer corpo visível, desaparece da vista, não da memória, conserva-se interiormente a sua imagem e, procura-se, até que seja restituída à vista. Logo que for encontrada, é reconhecida pela imagem que está dentro de nós. Não dizemos que encontrámos o que estava perdido, se não o reconhecemos, nem o podemos reconhecer, se não nos lembrarmos: mas aquilo que, de facto, estava perdido para os olhos, conserva-se na memória.'' [S. AGOSTINHO 2001; 253]

A memória, tal como a web, perde informação, embora acabe por manter sempre uma ténue ligação que poderá, em determinadas situações, permitir a recuperação da informação. No caso do Google, essa ligação é a referência que nos é oferecida na pesquisa, que prova a existência da página, mas não nos permite recuperar a informação.

A catalogação é outro ponto em comum entre a memória na web e a memória humana. No caso da web a organização - catalogação - é feita por palavras-chave. A pesquisa da informação é efectuada por comparação entre a palavra introduzida no campo da procura e a existência dessa palavra num dos ampos definidos para pesquisa: url, texto, título, domínio, etc.

No caso da memória humana a catalogação é feita a partir da informação recolhida pelos sentidos que funcionam como interface. ``Ali (na memória) estão arquivadas, de forma distinta e classificada, todas as coisas que foram introduzidas cada uma pela sua entrada: a luz e todas as cores e formas pelos olhos; todas as espécies de sons pelos ouvidos; todos os odores, pela entrada do nariz; todos os sabores, pela entrada da boca; e, pelo sentido de todo o corpo, o que é duro, o que é mole, o que é quente ou frio, o que é macio ou áspero, pesado ou leve, quer exterior, quer interior do corpo.'' [S. AGOSTINHO 2001; 242]

Diferenças

Há, no entanto, vários aspectos em que a memória na internet se afasta do esquema de funcionamento da mente humana.

Ao imaginarmos a representação espacial de linha do tempo conseguimos perceber que passado e futuro compartilham a mesma natureza. Os extremos da linha - direita e esquerda - são dois infinitos matemáticos. Já o presente tem uma essência completamente diferente pois para o Homem existe apenas como um ponto, o exacto momento em que vivemos.

Na web a representação espacial da temporalidade assume contornos diferentes: passado e presente passam a compartilhar a mesma natureza, pois o passado assume também uma das propriedades do presente ao estar disponível na memória da web. Podemos assim dizer que passamos a ter um passado-presente e um presente-presente.

Isto quer dizer que a web, mais do que nenhum outro meio, comprime o tempo. Não o tempo que mede o espaço entre a emissão e a recepção da mensagem, tal como acontece em qualquer media, mas o tempo memória, o espaço existente entre o momento do acontecimento e o momento da pesquisa.

Outro ponto de afastamento entre a memória humana e a memória na web é a relação importância/duração de um acontecimento. A memória humana retém sobretudo o momento do acontecimento. Quando nos recordamos de algo não temos imediatamente presente a duração desse acontecimento mas sim o acontecimento em si. Se tivermos um acidente de viação, o que retemos na memória é o momento do acidente e as suas consequências, não o tempo em que toda a acção decorreu. Este facto marca uma diferença fundamental em relação à memória na web. Tomemos como exemplo o desastre do Prestige. Se procurarmos na nossa memória marcas desse acidente destacamos dois momentos: um primeiro marcado pelo afundamento do navio e um segundo assinalado pela chegada do fuelóleo às praias da Galiza. Eventualmente estes dois momentos podem ser completados com algumas reminiscências das notícias lidas, escutadas ou vistas.

Vejamos agora a memória na web: escrevendo a expressão ``petrolero Prestige'' no pesquisador Google obtemos 9.1709 referências. Estas referências reportam-nos para cada momento dos acontecimentos, emergindo um fenómeno contínuo. (+)

Esta continuidade marca uma ruptura em relação à memória humana, caracterizada por dois pontos, eventualmente ligados por outros pontos, mas sem pontos de união (+) entre si. Já a memória na web poderá ser representada por uma sequência ininterrupta não cronológica.

Arquivo e Memória social

Durante muito tempo o conceito de memória esteve ligado ao campo da psicologia individual. No entanto alguns autores, como Paul Ricoeur [cit. VARELA 2000; 5], referem que as nossas recordações são, presumivelmente, relatos que nos foram contados por outras pessoas. O recurso de um indivíduo às recordações de outros faz com que a memória individual seja, também, uma memória colectiva na medida em que se alicerça num conjunto de memórias que passam de geração e geração, sendo compartilhadas por vários indivíduos que tomam contacto com elas através da escrita ou da oralidade.

Nas sociedades sem escrita, a memória era fundamental na transmissão dos saberes. A memória colectiva dependia do processo biológico interno de determinados indivíduos que, que por serem detentores de um determinado dom, funcionavam como guardiães da memória social do grupo.

Com a passagem a oralidade à escrita, dá-se a dessacralização da memória, enquanto processo biológico, acentuando-se o seu cariz técnico. A memória começa a exteriorizar-se e a autonomizar-se do homem, materializando-se em suportes manuscritos e inscrições em monumentos. Estas inscrições em lugares públicos de alto valor simbólico a que Pierre Nora [1992] chamou ``lugares de memória'' tornaram-se na base das identidades sociais, políticas e culturais, constituindo-se como a memória social estática e impossibilitada de ser organizada.

Os livros, por seu lado, continuaram durante muito tempo a servir apenas como apoio mnemotécnico. Só a invenção da imprensa de Gutemberg permitiu o acréscimo do número de livros em circulação, libertando-os da sua simples função de apoio. A partir do séc. XVIII surgem os dicionários e enciclopédias através das quais o conhecimento começa a surgir organizado por tópicos, facilitando as pesquisas de informação. O livro passa a desempenhar também o papel de memória colectiva, organizada, pesquisável e dotada de mobilidade.

O crescimento exponencial do número de livros vai também incrementar o aparecimento de bibliotecas e arquivos o que contribui decisivamente para a sedimentação desta memória social de grande dimensão. Mónica Nunes diz que ``o arquivo, inegavelmente, representa o conhecimento que está organizado em memórias fora do corpo do homem em forma de técnicas e tecnologias, das narrativas míticas às bibliotecas digitais. E, embora se reconheça na cultura dos media os avatares da paixão arquivista, não será este o fulcro da discussão para tratarmos das operações da memória nos media.'' [NUNES 2001;21]

É essa mesma dimensão que vai obrigar à implementação de sistemas de catalogação e pesquisa que facilitam a vida dos utilizadores destas bibliotecas: primeiro através de fichas em papel, mais tarde através de sistemas electrónicos, mas sempre sujeitos ao constrangimento do espaço e do tempo. A procura de informação implicava a presença física no local do arquivo e o processo de pesquisa era moroso.

O nascimento da internet veio facilitar o acesso à informação ao rebater em simultâneo as barreiras do espaço e do tempo. Por um lado o acesso passa a ser global na medida em que a informação está disponível na web. Por outro lado as bases de dado permitem que os processos de pesquisa acelerem e se refinem: de uma assentada passa a ser mais rápido e mais preciso conseguir aceder à informação disponível nos milhões de páginas web. Este manancial de informação representa uma memória social, dinâmica, organizada e navegável que nos remete para os dois sentidos fundamentais da palavra ``comunicação'':

i. por um lado o sentido normativo associado à ideia de comunhão e de partilha. É esta a noção imediata da palavra comunicação já que a associamos a uma partilha de informação entre o emissor e o(s) receptor(es). A ideia de partilha torna-se ainda mais fundamental quando o número de receptores aumenta significativamente, tal como sucede na internet.

ii. por outro lado, este aumento do universo de receptores está intimamente ligado ao sentido funcional da comunicação, que por seu lado está associado aos conceitos de transmissão e difusão. O desenvolvimento dos meios mecânicos de reprodução veio sublinhar o sentido funcional da comunicação, pois permitiu uma difusão maior do livro e, posteriormente, da imprensa. Mas o aumento da informação em circulação acabou por causar alguma entropia no sistema, levando à dissociação destes dois conceitos. Como refere Dominique Wolton [cf. WOLTON 2000], a difusão deixou de ser uma condição natural de partilha já que a comunicação funcional passou a remeter mais para a troca de informação no seio de sociedades complexas e para a divisão do trabalho. Esta especialização, se assim lhe quisermos chamar, contraria o conceito de partilha, associado à universalidade da comunicação.

De certa a forma a web vem relançar a ligação ontológica entre os sentidos normativo e funcional da comunicação pela necessidade de organizar a grande quantidade de informação disponível. Os portais, por exemplo, são uma tentativa de associar o conceito de partilha ao de difusão. Motores de busca, como o Yahoo ou o Altavista, permitem a pesquisa por palavra mas também por tema, oferendo uma organização vertical que sublinha o sentido normativo da comunicação. A organização temática simplifica o acesso a quem procura aquela informação e facilita a navegação para os que só acidentalmente passam pela página auxiliando assim a partilha com elementos externos ao grupo sócio-profissional ao qual se destinava.

Jornalismo e memória na Internet (+ sobre jornalismo digital)

O jornalismo10 na internet pode ser analisado em dois planos distintos:

i. Por um lado alimenta a memória da web graças ao arquivo das notícias que diariamente são colocadas on-line.

ii. Por outro recorre a alguns dos serviços da internet como apoio: o mail para efectuar contactos e a web como background para a contextualização e actualização das notícias, são dois exemplos.

A questão da contextualização assume particular importância na medida em que a natureza hipertextual da internet lhe permite o enriquecimento das notícias, contrariando assim um dos problemas do jornalismo actual: a compatibilização da velocidade da informação, com o espaço disponível e com a riqueza das informações disponibilizadas. Numa entrevista recente Mário Mesquita11 defendia que ``falta à imprensa uma certa memória'', alertando ainda para o perigo de ``um jornalismo descontextualizado facilitar o aparecimento de um jornalismo de estados de alma''. Esta imprensa com memória não exige, evidentemente, a web como apoio, mas é certo que facilita na medida em que o acesso à informação é imediato.

Campbell y Goodman [cit. NOCI 2001; 114], referem que um meio de comunicação electrónico pode oferecer até três níveis:

1. Nível de apresentação ou interface do utilizador - o que aflora à superfície, composto pelo sistema de navegação, incluindo as metáforas do sistema, cursores, botões, mapas, etc.

2. Nível estrutural - É o que determina o esquema de união dos nós mediante ligações e as suas múltiplas relações

3. Nível de base de dados - o que se encontra oculto mas que permite, mediante sistemas de busca, que os dados aflorem rapidamente à superfície. É isto que faz com que se possa manejar com celeridade e segurança uma quantidade de informação impensável de ser oferecida por um meio convencional.

É justamente nesta terceira característica que a internet mais se distingue dos outros media. Luís Nogueira [2002; 15] refere que ``em relação aos media tradicionais, em que o arquivo não estava disponível em tempo real, a grande vantagem da internet é que a capacidade de indexação, aliada ao poder de computação e de armazenamento da informação, torna toda a informação virtualmente imediata.'' Marcos Palácios [cf.2002] chama a esta possibilidade de acesso imediato à informação ``memória múltipla, instantânea e cumulativa'' sublinhando ainda com esta expressão o carácter ``arquivista'' resultante da acumulação de informação na web. A referida acumulação confere à informação um carácter perene. ``Se antes o destino do trabalho jornalístico se jogava ao nível do efémero (o curto prazo de validade do conteúdo do jornal, a irreversibilidade do noticiário televisivo ou radiofónico), agora a informação entrou no regime do presente contínuo potencial.'' [NOGUEIRA 2002; 15]

A notícia perde a sua natureza perecível e ganha uma segunda vida, afastando-se do conceito base que levou à sua produção: a novidade. Feita história, a notícia ganha novas propriedades e passa a constituir uma unidade de memória.

Conclusão

Do que foi escrito depreende-se que a internet surge, naturalmente, como uma extensão da memória. Esta constatação não acrescenta nada de novo já que a ligação entre os mass media e a memória é um dado adquirido. Desde sempre os media se têm assumido como um elemento de interpretação e contextualização da realidade, constituindo-se ainda como repositório de informação, em paralelo com as bibliotecas, videotecas e museus.

Embora a análise dos conteúdos mediáticos sirva como elemento de interpretação para muitas áreas de investigação, os processos de pesquisa nos arquivos dos media tradicionais são morosos, falíveis e limitam o pesquisador pela obrigação de se deslocar para o local onde o material está arquivado.

Na verdade a lógica de um armazenamento em condições óptimas de acesso, nomeadamente no campo da facilidade de pesquisa e da rapidez na obtenção de dados, nunca foi uma preocupação dos media até ao aparecimento da internet.

Com ela surgiram as edições on-line e a sua disponibilização na internet acabou por permitir uma acumulação de informação passível de ser consultada.

E nem só os media digitalizaram os seus arquivos. Livros, vídeos, músicas, e imagens de obras de arte estão agora acessíveis a nível universal.

As novas tecnologias, e a internet em particular, expandiram os nossos sentidos, a nossa capacidade para comunicar a larga escala com mais rapidez, eficiência e flexibilidade. Um dos grandes desafios do futuro é compreender a internet e a forma como se pode tirar partido das suas características de uma forma eficiente.

A história social de uma tecnologia não se reduz apenas aos seus aspectos de ruptura, já que em todo o processo de transformação existem também elementos de continuidade. Como refere Carlos Scolari, ``os interfaces nunca morrem, metamorfoseiam-se e ligam-se com outras interfaces: este texto ``desenrola-se'' nos monitores como um papiro vertical; clicando em alguns dos seus links passamos a uma nova página (web), como num velho "codex" medieval. Nos actuais documentos hipermédia - tal como em qualquer outra inovação tecnológica - concentra-se uma boa parte das interfaces precedentes, provenientes não só do mundo do livro, como de uma multiplicidade de objectos de uso quotidiano (por ex. alavancas, botões, luzes, etc.). Esta espécie de metástases das interfaces constitui um dos aspectos mais interessantes das tecnologias.'' [SCOLARI 1998]

O desafio que se coloca à internet é aperfeiçoar as suas capacidades como memória, desenvolvendo bases de dados e interfaces de pesquisa que se aproximem dos modelos já utilizados pelo homem no seu contacto diário com a realidade. Mantendo uma sintaxe de utilização semelhante à que é utilizada noutras estruturas presentes no dia a dia, a absorção da tecnologia será mais natural. É verdade que as interfaces nunca são próteses neutras mas o sucesso da utilização da internet como memória dependerá em muito da capacidade de integrar como uma extensão mais congénita do que adquirida.

Bibliografia



Notas de rodapé

... Pathe1
A British Pathe é uma das mais antigas empresas de media e as suas raízes remontam a 1902. Em 1910, a Pathe iniciou a produção da Pathe Gazette, um boletim informativo em película que era transmitido nos cinemas antes dos filmes. Até 1970, data em que a empresa abandonou a actividade, a Pathe acumulou cerca de cem mil histórias que em conjunto perfazem cerca de 3500 horas de história do século XX. Este espólio foi colocado online no dia 19 de Novembro de 2002.
...MyLifeBits2
A ideia do projecto MyLifeBits é alojar num servidor da Microsoft (a empresa que financia a investigação) uma base de dados pessoal de memórias digitais que pretendem ``arquivar'' conversas telefónicas, mensagens de correio electrónico, páginas web visitadas, fotografias digitais, compras on-line, vídeos ou músicas.
... artigo3
Artigo publicado na Atlantic Monthly nº 176 /Julho de 1945 e mais tarde desenvolvido no livro As we may think, Endless Horizons, Washington DC, Public Affairs Press, 1946. O livro inspirou personagens míticas como Douglas Engelbart (o inventor do rato e dos interfaces amigáveis, por exemplo) ou Ted Nelson, que introduziu palavra "hipertexto" no mundo científico em 1965.
... ``Memex''4
O Memex era um dispositivo baseado em tecnologia microfilme que nunca chegou a ser construído. É unanimemente considerado o avô analógico dos actuais hipertextos digitais.
... sintaxe5
Por sintaxe entende-se a sequência de acções que o utilizador da Internet deve executar para atingir o seu objectivo.
... breakdown6
Sequência de acções incorrecta.
... busca7
Para este estudo tomámos o motor de busca Google como referência. Para isso vamos explicar, de uma forma simplificada, como funciona este motor, o mais usado actualmente. Os criadores do Google introduziram o conceito de PageRank para hierarquizarem os resultados de uma procura. O princípio utilizado é simples: quanto mais ligações houver para uma determinada página, mais importante deve ser. Assim, quando alguém faz uma pesquisa no Google recebe um conjunto de páginas onde a palavra procurada (na url, título, texto, etc) aparece, sendo que a primeira referência é a página com mais links apontados. O Google tem um robot que pesquisa continuamente a web à procura de novas páginas fazendo o download parcial (web crawling) para os servidores. Nos servidores essas páginas são comprimidas e indexadas para que a resposta a uma pesquisa tenha uma duração entre 1 e 10 segundos).
... 20018
2001 é o ano da tradução para português da obra Confissões.
... 9.1709
Pesquisa efectuada no dia 15 de Abril de de 2004 no motor GOOGLE.
... jornalismo10
Por jornalismo na Internet entende-se todo o tipo de informação jornalística que circula na web, independentemente de tirar partido das características do meio (webjornalismo) ou utilizá-lo apenas como suporte.
... Mesquita11
Em entrevista ao Diário de Notícias de 5 de Janeiro de 2003