Experiências de rádio produzidas para e por
jovens: o panorama português das rádios
universitárias
Paula Cordeiro1
Índice
Resumo
Na rádio, como em todos os domínios da
comunicação, os jovens são um segmento ao qual se
devem dirigir formas e conteúdos específicos. No sector
privado, a rádio está a ser encarada como entretenimento,
deixando as outras funções para sistemas
alternativos de comunicação radiofónica, como o
Serviço Público e as rádios universitárias. No
contexto deste panorama comunicacional, importa saber quais os
objectivos e desafios para as rádios Universitárias. Em
Portugal, existem quatro rádios universitárias com
emissão em FM e alguns projectos universitários de
rádios na web. Nesta comunicação, pretende-se
traçar um mapa da comunicação radiofónica de
carácter universitário apresentando a história,
estrutura e principais características de cada um desses
projectos, analisando a sua contribuição, influência e
importância no contexto da comunicação radiofónica
em geral.
1 Introdução
Na actualidade, uma das tendências da rádio é a da
segmentação dos ouvintes por escalões etários e classes
sociais, mais do que grupos de interesses, resultando na
especialização das rádios em torno de géneros musicais. Na
rádio, como em todos os domínios da comunicação, os jovens
são um segmento ao qual se devem dirigir formas e conteúdos de
comunicação específicos Em Portugal, há poucas rádios
temáticas, tendo começado apenas há pouco tempo, a desenvolver
estratégias de especialização musical, mas que apresentam outros
conteúdos de carácter generalista, como a informação
noticiosa. Para o segmento da população mais jovem, existem
várias experiências de rádio dirigidas aos jovens, mas são
rádios privadas que apresentam uma especialização musical em
torno de diferentes quadrantes musicais e não têm emissões para
todas as regiões do país. O canal jovem de serviço público
tem frequências ao nível nacional procurando servir os interesses
da população juvenil, sem contudo permitir a sua
participação na construção da programação. Neste
contexto, as rádios universitárias surgem como único elemento no
panorama das rádios em Portugal que integra jovens nas suas estruturas
de decisão, sendo que, cada uma das existente é totalmente dirigida
e produzida por estudantes universitários, revelando-se como uma
experiência comunicacional de relevo para a criação e
desenvolvimento de conteúdos destinados aos jovens. Em Portugal, existem
quatro rádios universitárias com emissão em FM e alguns
projectos universitários de rádios na web. Quais são então,
os desafios da rádio para este segmento da população?
Que tipo de programação apresentam as rádios privadas
e as rádios universitárias com emissões em FM? Quais
os objectivos e desafios para as rádios Universitárias
neste panorama comunicacional? Nesta comunicação,
pretende-se traçar um mapa da comunicação
radiofónica de carácter universitário apresentando a
história, estrutura e principais características de cada
um desses projectos, analisando a sua contribuição,
influência e importância no contexto da
comunicação radiofónica em geral.
2 Rádios Universitárias com emissão FM
No norte, a Rádio Universidade do Marão tem uma história que
remonta a 1986, apresentando-se hoje como uma das estações de
rádio mais importantes da região norte interior. Com emissão em
FM na sintonia dos 104.3, a Rádio Universidade do Marão
(Universidade FM) é uma cooperativa integrada no ramo Cultura do sector
cooperativo. Em 2003 foi declarada a utilidade pública da Universidade
FM pelo seu manifesto contributo para o desenvolvimento local e regional.
Com emissões regulares há 18 anos e uma potência máxima
permitida de 1000 Watts, a Universidade FM chega ao concelho de Vila Real e
abrange o Norte do distrito de Viseu e Oeste do distrito de Bragança
(concelhos de Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães). A RUM é
também ouvida em algumas outras zonas, nomeadamente, Vale do Sousa e
Guarda. Criada para a produção e radiodifusão local e regional
de programas no âmbito da informação e divulgação
científica, tecnológica e recreativo-cultural, a estação
tem-se afirmado como uma rádio que consegue conciliar os interesses da
região com os da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD),
sendo esta a principal detentora da estação. São também
membros cooperantes os Serviços de Acção Social da UTAD, a
Associação Académica da UTAD e a Fundação Rei D.
Dinis/UTAD.
Em termos musicais a estação está voltada para a juventude, com
uma selecção musical cuidada e em permanente actualização.
As manhãs, tardes e fim do dia têm animação, podendo
classificar-se a Universidade FM como uma rádio generalista. O
espaço nocturno das 22h às 02h dá lugar a programas de autor
realizados por alunos e ex-alunos da UTAD que lhe imprimem o seu cunho
pessoal decorrente das suas opções musicais.
A estrutura informativa da estação baseia-se na informação
nacional, regional e da UTAD, bem como a transmissão dos noticiários
da Antena 1 às 8h, 10h e 14h. Neste campo, desde há cerca de seis
anos que esta estação integra um projecto que engloba mais uma
rádio do distrito de Vila Real, sete do distrito de Bragança e que
consiste no maior projecto de informação de rádio em
Trás-os-Montes e Alto Douro - Cadeia de Informação Regional
(CIR). São nove rádios que colaboram diariamente num noticiário
regional com cerca de 30 minutos que vai para o ar às 12:30 e às
18:30. Nos últimos cinco anos a aposta forte desta rádio foi feita
no sector da informação sobre a região e é por isso que,
neste momento, se orgulha de ser apelidada de líder na
informação do distrito de Vila Real. Para conquistar este estatuto
não foram alheios os 16 blocos de notícias diariamente são
produzidos, três dos quais apenas com informação académica.
A estação tem também o programa ``Imigrante'' realizado pela
estação desde Abril de 2002, um espaço trilingue (português,
russo e romeno) onde semanalmente são colocadas e respondidas as
perguntas mais frequentes dos cidadãos estrangeiros que se encontram a
trabalhar na região. O futuro da Europa tem também passado pela
Universidade FM, pois desde 2002 que se vêm realizando uma série de
debates com políticos e representantes da nossa sociedade civil, bem
como doze Embaixadores dos novos países candidatos à adesão
à União Europeia. Em 2004 e no início de 2005, os programas
sobre ``O Futuro da Europa'' ultrapassaram os limites da região e mesmo
do país, uma vez que esta nova série de programas tem difusão
em mais quinze rádios dos distritos de Vila Real, Viseu e Bragança e
está também a ser emitido por uma rádio do Luxemburgo que
transmite em língua portuguesa.
Ao nível informativo, a programação da Universidade FM inclui
ainda um programa semanal de entrevista a protagonistas locais e um debate
também semanal transmitido em directo, a partir do Café Concerto do
Teatro de Vila Real, o programa ``Pontos nos Jotas'' que consiste num debate
sobre política local onde intervêm jovens militantes dos partidos
políticos com maior representatividade no País. Aos domingos,
há lugar à informação desportiva. A sua vertente informativa
estende-se também a uma participação cívica em campanhas de
sensibilização para alguns dos maiores problemas sociais. A
título de exemplo, destaca-se a parceria com rádios de todo o mundo
via Internet (AMARC: Associação Mundial de Rádios
Comunitárias) numa emissão dedicada à luta contra o racismo que
decorre desde há cinco anos.
A Universidade FM não se limita à informação e
entretenimento e tem procurado também atrair riqueza à região
através da realização de vários encontros e congressos
nacionais e internacionais, dos quais se destaca o primeiro e único,
até hoje, ``Congresso Internacional de Rádios de Língua
Portuguesa'' que juntou rádios de língua portuguesa de Angola,
Brasil, Cabo Verde, França, Guiné, Luxemburgo, Macau,
Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor, realizado em 2000.
O desenvolvimento da programação e a notoriedade desta
estação têm sido possíveis graças à
estreita colaboração entre vários parceiros, entre os
quais se destacam a UTAD e todos os anunciantes que têm
apostado nesta rádio.
A equipa tem três jornalistas profissionais, sendo a única
do distrito de Vila Real nestas circunstâncias. No seu todo, a
equipa é constituída por sete profissionais: 3
jornalista, 2 locutores, 1 técnico multimédia e um
técnico de equipamento de som, bem como alunos, ex-alunos,
professores, políticos e "membros da sociedade civil".
Em 2000, a Universidade FM deu os seus primeiros passos no mundo virtual,
sendo, desde essa altura, a única rádio da região com
emissão na Internet. O objectivo desta emissora é tornar-se na
primeira rádio local totalmente digital do país estando nesta
altura a adquirir os novos equipamentos que a tornarão na rádio mais
evoluída tecnicamente em Portugal. Contudo, por questões
técnicas, a sua presença na Internet está ainda em fase de
desenvolvimento de conteúdos prevendo-se que seja implementada uma
versão experimental ao longo do corrente ano.
No litoral minhoto nasceu em 1990 a Rádio Universitária do Minho
(RUM), uma estação de rádio criada pela Associação
Académica da Universidade do Minho (AAUM) que funciona como um organismo
autónomo desta associação e emite na frequência dos 97.5 FM.
A programação contempla informação 24 horas por dia e, desde
há 15 anos que a estação procura, acima de tudo, marcar a
diferença pelo som, alicerçando a sua atitude num projecto
alternativo aos existentes. Esta estação orgulha-se se assumir como
uma das poucas rádios onde os locutores têm liberdade de escolher as
músicas que querem, quando querem, sendo por isso, uma rádio
universitária que mantém programas de autor e procura ser a menos
formatada em termos de conteúdos. Na RUM, o modelo de programa de autor
é dominante, permitindo ao animador um papel interventivo e
preponderante na definição do seu programa. Esta é uma das
principais características da estação que, apesar de ser uma
rádio universitária, procura chegar a um público mais vasto,
muito embora a potência do emissor não permita uma abrangência
de sinal para as emissões chegarem de Braga a Viana do Castelo e ao
Porto nas melhores condições.
A RUM está aberta a todos os alunos da Universidade do Minho, podendo
ser considerada como uma escola experimental para aqueles que pretendem dar
os primeiros passos nesta área.
Com o objectivo de demonstrar como funciona o mundo da rádio e de
diminuir as distâncias entre os ouvintes e os locutores, a
estação tem vindo a promover um conjunto de actividades de modo a
aproximar os públicos, simulando emissões de rádio ou fazendo
emissões em directo do exterior. Paralelamente, tem promovido eventos
para dinamizar os espaços de cultura urbana, procurando sempre, a
aproximação do público à rádio.
Na web, a página da RUM apresenta os destaques da programação e
os eventos em curso, bem como a possibilidade de escuta das emissões
on-line.
No centro do país, a Rádio Universidade de Coimbra é o projecto
mais antigo.
A sua fundação data de 1949 por um grupo de estudantes
universitários, tendo permanecido até à sua legalização
como rádio pirata, dedicada essencialmente ao entretenimento. Nesta
altura, o Centro Experimental de Rádio, uma secção da
Associação Académica de Coimbra começou a formar
técnicos e locutores, e iniciou igualmente emissões regulares de
rádio. A difusão era feita em circuito interno e destinava-se às
cantinas universitárias, sendo também ouvida na cidade. Durante
vários anos, a RDP Emissora Nacional concedeu algum do seu tempo de
antena aos estudantes, com divulgação no centro regional da RDP em
Coimbra.
Em 1986, depois de um processo de desenvolvimento de meios técnicos para
emissões regulares nos 100 MHz, foi criada a estação que cobre a
área compreendida entre Coimbra e Aveiro. Começaram então os
primeiros serviços noticiosos com carácter regular. A
legalização foi conquistada em 1988, data a partir da qual a RUC
começou a emitir na frequência dos 107.9 FM durante 24 horas por
dia, tendo-se tornado efectivamente numa das principais escolas de rádio
do país e no primeiro órgão de comunicação social
inteiramente composto e gerido por estudantes universitários.
Actualmente, a principal meta da RUC é fazer um jornalismo objectivo e
rigoroso, não esquecendo, porém, que este é experimental. O
conceito rádio - escola é fundamental, sendo a pedra de toque da
RUC, promovendo cursos nas áreas de locução/realização,
informação e técnica de radiodifusão nos meses de
Outubro/Novembro de cada ano e desenvolvendo workshops ocasionais. No que
diz respeito à equipa desta emissora, todos os anos entram novas
pessoas, saindo depois dotados de um know-how prático importante. É
dada formação técnica e também ao nível de marketing. A
emissora conta com cerca de 90 colaboradores activos não remunerados,
sendo que alguns já não são universitários.
Com um público-alvo com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos, a
RUC pretende ser ``uma voz de Coimbra'', debruçando-se não apenas
sobre a política estudantil, mas também reportando factos ligados
à política camarária, política nacional e internacional,
bem como cultura regional. Este é um dos pilares fundamentais desta
emissora, havendo um grande esforço no sentido de obter uma
participação efectiva nos eventos culturais por parte dos ouvintes.
Esta estação tem 3 noticiários diários, existindo a
preocupação de cumprir o que a lei prevê sobre a emissão de
informação.
Quanto aos programas da grelha, a emissora tem programas de política
internacional, racionalizando o recurso ao quadro docente do curso de
Relações Internacionais da Universidade; programas desportivos como
por exemplo, o ``Prognósticos'', direccionado mais para a cobertura
regional; e a Praça da Agonia, é um programa informativo que faz a
actualização das notícias e os destaques do dia. Em termos
musicais, esta estação dedica especial atenção aos
géneros alternativos e menos comerciais, com a emissão de programas
de autor e a preocupação em manter uma considerável
actualização a este nível.
A RUC tem também formato digital, com uma página web renovada em
2003, depois da aquisição do domínio ruc.pt, que apresenta
não só a estação e os seus programas, colmatando igualmente
as necessidades dos ouvintes já licenciados, que deixaram a faculdade de
Coimbra, e até mesmo de estudantes de Erasmus que retornaram aos seus
países de origem e continuam a ouvir a estação através da
Internet.
A sul foi recentemente criada a Rádio Universitária do Algarve. Este
projecto partiu da vontade e dos ideais de um grupo de alunos desta
Academia. Rapidamente se expandiu a toda a comunidade universitária para
criar aquela que hoje é Rádio Universitária do Algarve, uma
associação sem fins lucrativos que tem como únicos associados, a
Universidade e a Associação Académica. A criação desta
estação teve longo um percurso até à atribuição do
alvará em Novembro de 2002. A Rádio iniciou as suas emissões a
título experimental, a 26 de Julho de 2003, estando a emitir para a
região do Algarve em 102.7 MHz e abrangendo uma população de
aproximadamente 250 mil indivíduas.
A programação da RUA segue uma linha generalista, procurando a
originalidade, criatividade, irreverência e espírito jovem. O
público-alvo abrange ambos os sexos, com idades que variam entre os 18 e
os 35 anos, universitário e pós-universitário. A RUA FM
caracteriza-se por uma atitude de serviço público e pretende ir ao
encontro das necessidades do ouvinte, partindo da selecção e
divulgação ao nível musical, particularmente, nacional,
passando pela cobertura noticiosa, até ao constante acompanhamento dos
maiores eventos da região Sul associados à dinâmica social.
Semana académica, concertos e espectáculos, festas, eventos juvenis
têm a atenção desta estação. Paralelamente, a RUA FM
fomenta e apoia espectáculos culturais, tentando abranger as suas
diversas vertentes performativas, as tertúlias e a música nacional
(concursos de Bandas, concertos). Os programas de autor fazem também
parte da grelha de programas das noites algarvias desta estação,
existindo actualmente dezanove no ar, que abrangem diferentes estilos
musicais, do Jazz, Heavy Metal, Reggae, Música Portuguesa (Nova e
Tradicional), Música do Mundo, Dança, Electrónica, Independente
e Hip-Hop/ Rap. Para além dos Programas de Autor a grelha contém,
nesta altura, cinco rubricas, explorando temas como o cinema (Curta
Metragem), a música (Sonar), a internet (Motor de Busca), a
informática (Fábrica das Soluções) ou a cultura (Rua Cheia),
a qual a estação pretende que se torne num dos principais
veículos de divulgação da cultura no Algarve, para compensar a
ausência de informação na Região.
A equipa de trabalho é composta, na sua maioria por voluntários.
Apenas um membro da direcção é remunerado, juntamente com uma
estagiária técnicoprofissional. A contribuição passa
também por estagiários curriculares (neste momento dois), por doze
alunos de Ciências da Comunicação, a realizar as aulas
práticas nas nossas instalações e por um grupo de cerca de
trinta colaboradores.
A Rádio Universitária do Algarve serve, também, como centro de
formação e apoio ao ensino das Ciências da Comunicação e
de Tecnologias ligadas à Radiodifusão, tendo já sido dados os
primeiros passos, com a realização de cursos pelo CENJOR e de
Técnicas de colocação voz, estando em preparação novas
acções de formação e servindo as instalações da
Rádio para as aulas práticas dos alunos de Ciências da
Comunicação.
A presença virtual desta estação está ainda em
fase de desenvolvimento. O que se prevê, segundo os
responsáveis da estação, é que no website constem
todas as actividades da RUA FM, nomeadamente rubricas,
notícias, passatempos e eventos, emissão on-line e
registo digital de tudo o que é emitido pela RUA FM.
3 Rádios Universitárias com emissão para o campus e a web
Em Lisboa, a Rádio Interna do Instituto Superior Técnico
(IST) tem também uma longa história, havendo dados que
remontam aos anos 60, na altura, denominada Secção Sonora
e, mais tarde, a Rádio Universidade Tejo. Em meados da
década de 90, surgiu a Rádio Interna do IST (RIIST
http://ri.ist.utl.pt/), com períodos cíclicos de
existência de 2 anos, tendo o último terminado em 2000.
Tendo em consideração o vazio radiofónico que se fez
sentir neste Instituto, a RIIST foi relançada com um projecto
que tinha como principal objectivo a finalização destes
avanços e recuos. Estreou-se em 2002 mantendo, em
relação ao projecto anterior, o nome, algum material e os
estatutos. De Setembro de 2002 a Dezembro de 2003, a equipa tentou
angariar fundos para compra de material, bem como desenvolver o
projecto e resolver as dissidências com o Conselho Directivo
do IST em relação aos conteúdos que a RIIST teria. O
lançamento das emissões foi feito em Dezembro de 2003,
muito embora a primeira grelha de programas só tenha sido
completada em Abril de 2004. Em Setembro desse ano
começaram as emissões regulares da estação.
A RIIST é uma secção autónoma da Associação de
Estudantes do Instituto Superior Técnico (AE). A direcção da
rádio é constituída por alunos e a única ligação
directa com a AE é ao nível de espaço e material cedido, bem
como denominações fiscais. No que respeita à
constituição da equipa, a rádio tem colaboradores de todos os
cursos do IST e de outras escolas de Lisboa, havendo inclusivamente
colaboradores já formados. Todos colaboram em regime de part - time e
voluntariado.
Em termos de conteúdos, esta é a única rádio
universitária que não tem ainda estatuto editorial. A RIIST está
numa fase de definição e mudança interna, com alteração
de regulamentos, estudo para construção de novos estúdios e
definição de identidade. No que respeita à informação, a
RIIST tem estado a discutir os moldes em que a mesma se deverá
alicerçar no futuro.
A ausência de uma playlist é a principal característica deste
projecto que consegue ter conteúdos suficientes para preencher as suas
horas de emissão sem recurso a animação de continuidade. A
direcção da estação explicou que, neste momento, a aposta
é feita nos programas de autor, com programas horizontais semanais em
horário nobre sem uma divisão de conteúdos por dias da semana. A
RIIST tem emissão no campus do IST durante a tarde e o horário mais
forte é o almoço. É nestas horas que se encontram os programas
mais importantes destinados a uma maior audiência. Um mais comercial
(Prato do Dia) e um dedicado exclusivamente à música portuguesa
(PIB). Durante a tarde há também programas de autor, procurando
criar uma programação com estilos musicais genéricos. Os
programas de entrevistas estão na grelha nocturna quando a emissão
é feita exclusivamente on-line, dado que, durante a tarde no campus do
IST, estes estariam subaproveitados, pois os ouvintes estão em
circulação e com pouca disponibilidade para escutar atentamente um
programa desta natureza. Durante a madrugada e fim-de-semana, há
repetição dos programas.
Outra das apostas da estação é a criação de espaços
para rádio experimental. A RIIST tem um espaço denominado Aves
Raras, onde têm lugar programas de rádio experimentais, sendo esta a
primeira rádio portuguesa a integrar uma rede europeia de rádios
experimentais, das quais fazem parte a ResonanceFm, de Londres e Reboot.fm
de Berlim, entre outras.
A componente web é obviamente, o aspecto principal desta
estação, com um web site que inclui os conteúdos a
estação, notícias e emissão on-line. Para o caso,
importa perceber as capacidades do streaming, dado o facto de
parte da emissão de fazer exclusivamente por esta via. Segundo
as informações da direcção da estação, o
número máximo de ouvintes que a RIIST consegue ter é
de setenta escutas em simultâneo, o que permite considerar que
o streaming tem capacidade para mais ouvintes. Contudo, a
média de ouvintes ligados tem sido entre 10 a 20 em
simultâneo.
4 Webradios universitárias
Também em Lisboa, existe um projecto com emissões exclusivas na web.
Criado no Instituto Piaget, este projecto emite exclusivamente
para a Internet, assumindo-se como a primeira iniciativa do
género em Portugal. A Rádio 351 (http://www.radio351.com)
emite em suporte Web, 24 horas diárias uma programação
generalista e diversificada -- música, programas
temáticos, entrevistas e informação. Trata-se de
projecto media dinamizado simultaneamente por profissionais e por
alunos estagiários da Licenciatura em Ciências da
Comunicação.
A programação é variada, essencialmente musical e abrange os
vários géneros musicais, em emissões de continuidade e programas
de autor. Há também rubricas variadas que preenchem as emissões
desta webradio, nomeadamente um espaço de covers para redescobrir velhos
sucessos em novas versões; outro sobre Internet; novas edições
de DVD e lançamentos em VHS no que respeita a cinema e música;
agenda de concertos, cinema, teatro e exposições; bem como a revista
de imprensa diária, um olhar sobre as manchetes dos principais matutinos
e desportivos nacionais. E o jornal de desporto, as notícias que marcam
a actualidade desportiva.
Dada a sua existência virtual, o website desta estação é um
suporte às suas emissões, apresentando também notícias de
actualidade.
Paralelamente, esta estação tem um fórum de discussão com
vários temas relativos à instituição à qual pertence e
uma sala de conversação para utilizadores registados.
De todas as estações em análise, muito embora não
seja o website mais completo em termos de conteúdos, dada a
sua natureza virtual, é o mais estimulante em termos
gráficos. A página de entrada inclui passatempos e
votações, bem como os destaques em termos de actualidade
informativa e musical.
5 Conclusão
Em Portugal, o universo radiofónico assume características
próprias, sendo difícil catalogar de forma linear os diferentes
projectos de rádio. Quanto ao nível da cobertura, os serviços
de programas podem ser de âmbito nacional, regional ou local.
Relativamente aos conteúdos, existem rádios generalistas e
temáticas, públicas e privadas. Destas, há generalistas
públicas e privadas, com emissão nacional, regional ou local; e
temáticas públicas e privadas, com emissão nacional, regional,
local e em cadeia. Na generalidade, as estações organizam-se mais
pela sua especialização musical ao nível do conteúdo dos
programas e público-alvo, do que propriamente pela tematização.
Os jovens em Portugal são alvos de estratégias de
comunicação radiofónica específicas, quer da
parte de estações públicas e privadas, bem como
por parte das rádios universitárias (que se incluem no
grupo das rádios generalistas com emissão local). Dado o
facto da rádio privada ter fortes preocupações com a
rentabilidade e optar por oferecer um produto de entretenimento
puro, numa perspectiva mais comercial do meio, sem grandes
preocupações artísticas ou ao nível da
informação de actualidade, são os sistemas
alternativos de comunicação radiofónica, como o
Serviço Público e as rádios universitárias que
têm vindo a desenvolver programações que fogem ao
ritmo da comunicação radiofónica comercial,
apresentando elementos na sua programação de carácter
experimental e de formação de novos valores, contribuindo
para o debate de ideias e fomento da aproximação entre a
rádio e os ouvintes.
A história das rádios universitárias em Portugal começa na
década de 50, em Coimbra, com as primeiras iniciativas deste género.
Os projectos mais recentes, têm objectivos semelhantes mas um
carácter e estrutura diferenciados, apresentando uma evolução
que acompanha o pulsar académico e própria sociedade nacional. A
contribuição e influência das rádios universitárias no
desenvolvimento da formação de futuros profissionais, aliada à
importância no contexto da comunicação radiofónica em geral
são inegáveis e, num contexto em que a principal preocupação
é a rentabilidade da estação, as rádios universitárias
apresentam-se como elementos que oferecem alternativas de
programação e formação. A salvaguarda de alguns interesses,
nomeadamente a promoção da língua e cultura portuguesas,
contribuindo para a informação e recreação do público em
geral, atendendo à sua diversidade de idades e interesses,
particularmente o público universitário e as minorias culturais,
permitem que estas rádios fomentem de forma independente e pluralista, o
esclarecimento, a formação e a participação cívica e
política da população. Dada a existência de vários
cursos universitários na área da comunicação, aliados à
existência de apenas um curso técnico-profissional na área da
rádio em todo o país, estas rádios assumem-se como ponte entre
o meio académico e o meio profissional e, acima de tudo, como
verdadeiras escolas de rádio, permitindo aos alunos das universidades em
questão, a prática da rádio e a formação de futuros
profissionais da área.
- 1
- Mestre em Ciências da
Comunicação. Universidade do Algarve. E-mail:
pcordei@ualg.pt - www.ualg.pt/ese. Este texto foi apresentado no
I Encuentro Iberoamericano de Radios Universitarias em Granada, 13
a 16 de Março de 2005