Experiências de rádio produzidas para e por jovens: o panorama português das rádios universitárias

Paula Cordeiro1

 

Índice

 

Resumo

Na rádio, como em todos os domínios da comunicação, os jovens são um segmento ao qual se devem dirigir formas e conteúdos específicos. No sector privado, a rádio está a ser encarada como entretenimento, deixando as outras funções para sistemas alternativos de comunicação radiofónica, como o Serviço Público e as rádios universitárias. No contexto deste panorama comunicacional, importa saber quais os objectivos e desafios para as rádios Universitárias. Em Portugal, existem quatro rádios universitárias com emissão em FM e alguns projectos universitários de rádios na web. Nesta comunicação, pretende-se traçar um mapa da comunicação radiofónica de carácter universitário apresentando a história, estrutura e principais características de cada um desses projectos, analisando a sua contribuição, influência e importância no contexto da comunicação radiofónica em geral.

1  Introdução

Na actualidade, uma das tendências da rádio é a da segmentação dos ouvintes por escalões etários e classes sociais, mais do que grupos de interesses, resultando na especialização das rádios em torno de géneros musicais. Na rádio, como em todos os domínios da comunicação, os jovens são um segmento ao qual se devem dirigir formas e conteúdos de comunicação específicos Em Portugal, há poucas rádios temáticas, tendo começado apenas há pouco tempo, a desenvolver estratégias de especialização musical, mas que apresentam outros conteúdos de carácter generalista, como a informação noticiosa. Para o segmento da população mais jovem, existem várias experiências de rádio dirigidas aos jovens, mas são rádios privadas que apresentam uma especialização musical em torno de diferentes quadrantes musicais e não têm emissões para todas as regiões do país. O canal jovem de serviço público tem frequências ao nível nacional procurando servir os interesses da população juvenil, sem contudo permitir a sua participação na construção da programação. Neste contexto, as rádios universitárias surgem como único elemento no panorama das rádios em Portugal que integra jovens nas suas estruturas de decisão, sendo que, cada uma das existente é totalmente dirigida e produzida por estudantes universitários, revelando-se como uma experiência comunicacional de relevo para a criação e desenvolvimento de conteúdos destinados aos jovens. Em Portugal, existem quatro rádios universitárias com emissão em FM e alguns projectos universitários de rádios na web. Quais são então, os desafios da rádio para este segmento da população?

Que tipo de programação apresentam as rádios privadas e as rádios universitárias com emissões em FM? Quais os objectivos e desafios para as rádios Universitárias neste panorama comunicacional? Nesta comunicação, pretende-se traçar um mapa da comunicação radiofónica de carácter universitário apresentando a história, estrutura e principais características de cada um desses projectos, analisando a sua contribuição, influência e importância no contexto da comunicação radiofónica em geral.

2  Rádios Universitárias com emissão FM

No norte, a Rádio Universidade do Marão tem uma história que remonta a 1986, apresentando-se hoje como uma das estações de rádio mais importantes da região norte interior. Com emissão em FM na sintonia dos 104.3, a Rádio Universidade do Marão (Universidade FM) é uma cooperativa integrada no ramo Cultura do sector cooperativo. Em 2003 foi declarada a utilidade pública da Universidade FM pelo seu manifesto contributo para o desenvolvimento local e regional.

Com emissões regulares há 18 anos e uma potência máxima permitida de 1000 Watts, a Universidade FM chega ao concelho de Vila Real e abrange o Norte do distrito de Viseu e Oeste do distrito de Bragança (concelhos de Mirandela, Vila Flor e Carrazeda de Ansiães). A RUM é também ouvida em algumas outras zonas, nomeadamente, Vale do Sousa e Guarda. Criada para a produção e radiodifusão local e regional de programas no âmbito da informação e divulgação científica, tecnológica e recreativo-cultural, a estação tem-se afirmado como uma rádio que consegue conciliar os interesses da região com os da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), sendo esta a principal detentora da estação. São também membros cooperantes os Serviços de Acção Social da UTAD, a Associação Académica da UTAD e a Fundação Rei D. Dinis/UTAD.

Em termos musicais a estação está voltada para a juventude, com uma selecção musical cuidada e em permanente actualização. As manhãs, tardes e fim do dia têm animação, podendo classificar-se a Universidade FM como uma rádio generalista. O espaço nocturno das 22h às 02h dá lugar a programas de autor realizados por alunos e ex-alunos da UTAD que lhe imprimem o seu cunho pessoal decorrente das suas opções musicais.

A estrutura informativa da estação baseia-se na informação nacional, regional e da UTAD, bem como a transmissão dos noticiários da Antena 1 às 8h, 10h e 14h. Neste campo, desde há cerca de seis anos que esta estação integra um projecto que engloba mais uma rádio do distrito de Vila Real, sete do distrito de Bragança e que consiste no maior projecto de informação de rádio em Trás-os-Montes e Alto Douro - Cadeia de Informação Regional (CIR). São nove rádios que colaboram diariamente num noticiário regional com cerca de 30 minutos que vai para o ar às 12:30 e às 18:30. Nos últimos cinco anos a aposta forte desta rádio foi feita no sector da informação sobre a região e é por isso que, neste momento, se orgulha de ser apelidada de líder na informação do distrito de Vila Real. Para conquistar este estatuto não foram alheios os 16 blocos de notícias diariamente são produzidos, três dos quais apenas com informação académica. A estação tem também o programa ``Imigrante'' realizado pela estação desde Abril de 2002, um espaço trilingue (português, russo e romeno) onde semanalmente são colocadas e respondidas as perguntas mais frequentes dos cidadãos estrangeiros que se encontram a trabalhar na região. O futuro da Europa tem também passado pela Universidade FM, pois desde 2002 que se vêm realizando uma série de debates com políticos e representantes da nossa sociedade civil, bem como doze Embaixadores dos novos países candidatos à adesão à União Europeia. Em 2004 e no início de 2005, os programas sobre ``O Futuro da Europa'' ultrapassaram os limites da região e mesmo do país, uma vez que esta nova série de programas tem difusão em mais quinze rádios dos distritos de Vila Real, Viseu e Bragança e está também a ser emitido por uma rádio do Luxemburgo que transmite em língua portuguesa.

Ao nível informativo, a programação da Universidade FM inclui ainda um programa semanal de entrevista a protagonistas locais e um debate também semanal transmitido em directo, a partir do Café Concerto do Teatro de Vila Real, o programa ``Pontos nos Jotas'' que consiste num debate sobre política local onde intervêm jovens militantes dos partidos políticos com maior representatividade no País. Aos domingos, há lugar à informação desportiva. A sua vertente informativa estende-se também a uma participação cívica em campanhas de sensibilização para alguns dos maiores problemas sociais. A título de exemplo, destaca-se a parceria com rádios de todo o mundo via Internet (AMARC: Associação Mundial de Rádios Comunitárias) numa emissão dedicada à luta contra o racismo que decorre desde há cinco anos.

A Universidade FM não se limita à informação e entretenimento e tem procurado também atrair riqueza à região através da realização de vários encontros e congressos nacionais e internacionais, dos quais se destaca o primeiro e único, até hoje, ``Congresso Internacional de Rádios de Língua Portuguesa'' que juntou rádios de língua portuguesa de Angola, Brasil, Cabo Verde, França, Guiné, Luxemburgo, Macau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor, realizado em 2000.

O desenvolvimento da programação e a notoriedade desta estação têm sido possíveis graças à estreita colaboração entre vários parceiros, entre os quais se destacam a UTAD e todos os anunciantes que têm apostado nesta rádio.

A equipa tem três jornalistas profissionais, sendo a única do distrito de Vila Real nestas circunstâncias. No seu todo, a equipa é constituída por sete profissionais: 3 jornalista, 2 locutores, 1 técnico multimédia e um técnico de equipamento de som, bem como alunos, ex-alunos, professores, políticos e "membros da sociedade civil".

Em 2000, a Universidade FM deu os seus primeiros passos no mundo virtual, sendo, desde essa altura, a única rádio da região com emissão na Internet. O objectivo desta emissora é tornar-se na primeira rádio local totalmente digital do país estando nesta altura a adquirir os novos equipamentos que a tornarão na rádio mais evoluída tecnicamente em Portugal. Contudo, por questões técnicas, a sua presença na Internet está ainda em fase de desenvolvimento de conteúdos prevendo-se que seja implementada uma versão experimental ao longo do corrente ano.

No litoral minhoto nasceu em 1990 a Rádio Universitária do Minho (RUM), uma estação de rádio criada pela Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) que funciona como um organismo autónomo desta associação e emite na frequência dos 97.5 FM.

A programação contempla informação 24 horas por dia e, desde há 15 anos que a estação procura, acima de tudo, marcar a diferença pelo som, alicerçando a sua atitude num projecto alternativo aos existentes. Esta estação orgulha-se se assumir como uma das poucas rádios onde os locutores têm liberdade de escolher as músicas que querem, quando querem, sendo por isso, uma rádio universitária que mantém programas de autor e procura ser a menos formatada em termos de conteúdos. Na RUM, o modelo de programa de autor é dominante, permitindo ao animador um papel interventivo e preponderante na definição do seu programa. Esta é uma das principais características da estação que, apesar de ser uma rádio universitária, procura chegar a um público mais vasto, muito embora a potência do emissor não permita uma abrangência de sinal para as emissões chegarem de Braga a Viana do Castelo e ao Porto nas melhores condições.

A RUM está aberta a todos os alunos da Universidade do Minho, podendo ser considerada como uma escola experimental para aqueles que pretendem dar os primeiros passos nesta área.

Com o objectivo de demonstrar como funciona o mundo da rádio e de diminuir as distâncias entre os ouvintes e os locutores, a estação tem vindo a promover um conjunto de actividades de modo a aproximar os públicos, simulando emissões de rádio ou fazendo emissões em directo do exterior. Paralelamente, tem promovido eventos para dinamizar os espaços de cultura urbana, procurando sempre, a aproximação do público à rádio.

Na web, a página da RUM apresenta os destaques da programação e os eventos em curso, bem como a possibilidade de escuta das emissões on-line.

No centro do país, a Rádio Universidade de Coimbra é o projecto mais antigo.

A sua fundação data de 1949 por um grupo de estudantes universitários, tendo permanecido até à sua legalização como rádio pirata, dedicada essencialmente ao entretenimento. Nesta altura, o Centro Experimental de Rádio, uma secção da Associação Académica de Coimbra começou a formar técnicos e locutores, e iniciou igualmente emissões regulares de rádio. A difusão era feita em circuito interno e destinava-se às cantinas universitárias, sendo também ouvida na cidade. Durante vários anos, a RDP Emissora Nacional concedeu algum do seu tempo de antena aos estudantes, com divulgação no centro regional da RDP em Coimbra.

Em 1986, depois de um processo de desenvolvimento de meios técnicos para emissões regulares nos 100 MHz, foi criada a estação que cobre a área compreendida entre Coimbra e Aveiro. Começaram então os primeiros serviços noticiosos com carácter regular. A legalização foi conquistada em 1988, data a partir da qual a RUC começou a emitir na frequência dos 107.9 FM durante 24 horas por dia, tendo-se tornado efectivamente numa das principais escolas de rádio do país e no primeiro órgão de comunicação social inteiramente composto e gerido por estudantes universitários.

Actualmente, a principal meta da RUC é fazer um jornalismo objectivo e rigoroso, não esquecendo, porém, que este é experimental. O conceito rádio - escola é fundamental, sendo a pedra de toque da RUC, promovendo cursos nas áreas de locução/realização, informação e técnica de radiodifusão nos meses de Outubro/Novembro de cada ano e desenvolvendo workshops ocasionais. No que diz respeito à equipa desta emissora, todos os anos entram novas pessoas, saindo depois dotados de um know-how prático importante. É dada formação técnica e também ao nível de marketing. A emissora conta com cerca de 90 colaboradores activos não remunerados, sendo que alguns já não são universitários.

Com um público-alvo com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos, a RUC pretende ser ``uma voz de Coimbra'', debruçando-se não apenas sobre a política estudantil, mas também reportando factos ligados à política camarária, política nacional e internacional, bem como cultura regional. Este é um dos pilares fundamentais desta emissora, havendo um grande esforço no sentido de obter uma participação efectiva nos eventos culturais por parte dos ouvintes. Esta estação tem 3 noticiários diários, existindo a preocupação de cumprir o que a lei prevê sobre a emissão de informação.

Quanto aos programas da grelha, a emissora tem programas de política internacional, racionalizando o recurso ao quadro docente do curso de Relações Internacionais da Universidade; programas desportivos como por exemplo, o ``Prognósticos'', direccionado mais para a cobertura regional; e a Praça da Agonia, é um programa informativo que faz a actualização das notícias e os destaques do dia. Em termos musicais, esta estação dedica especial atenção aos géneros alternativos e menos comerciais, com a emissão de programas de autor e a preocupação em manter uma considerável actualização a este nível.

A RUC tem também formato digital, com uma página web renovada em 2003, depois da aquisição do domínio ruc.pt, que apresenta não só a estação e os seus programas, colmatando igualmente as necessidades dos ouvintes já licenciados, que deixaram a faculdade de Coimbra, e até mesmo de estudantes de Erasmus que retornaram aos seus países de origem e continuam a ouvir a estação através da Internet.

A sul foi recentemente criada a Rádio Universitária do Algarve. Este projecto partiu da vontade e dos ideais de um grupo de alunos desta Academia. Rapidamente se expandiu a toda a comunidade universitária para criar aquela que hoje é Rádio Universitária do Algarve, uma associação sem fins lucrativos que tem como únicos associados, a Universidade e a Associação Académica. A criação desta estação teve longo um percurso até à atribuição do alvará em Novembro de 2002. A Rádio iniciou as suas emissões a título experimental, a 26 de Julho de 2003, estando a emitir para a região do Algarve em 102.7 MHz e abrangendo uma população de aproximadamente 250 mil indivíduas.

A programação da RUA segue uma linha generalista, procurando a originalidade, criatividade, irreverência e espírito jovem. O público-alvo abrange ambos os sexos, com idades que variam entre os 18 e os 35 anos, universitário e pós-universitário. A RUA FM caracteriza-se por uma atitude de serviço público e pretende ir ao encontro das necessidades do ouvinte, partindo da selecção e divulgação ao nível musical, particularmente, nacional, passando pela cobertura noticiosa, até ao constante acompanhamento dos maiores eventos da região Sul associados à dinâmica social. Semana académica, concertos e espectáculos, festas, eventos juvenis têm a atenção desta estação. Paralelamente, a RUA FM fomenta e apoia espectáculos culturais, tentando abranger as suas diversas vertentes performativas, as tertúlias e a música nacional (concursos de Bandas, concertos). Os programas de autor fazem também parte da grelha de programas das noites algarvias desta estação, existindo actualmente dezanove no ar, que abrangem diferentes estilos musicais, do Jazz, Heavy Metal, Reggae, Música Portuguesa (Nova e Tradicional), Música do Mundo, Dança, Electrónica, Independente e Hip-Hop/ Rap. Para além dos Programas de Autor a grelha contém, nesta altura, cinco rubricas, explorando temas como o cinema (Curta Metragem), a música (Sonar), a internet (Motor de Busca), a informática (Fábrica das Soluções) ou a cultura (Rua Cheia), a qual a estação pretende que se torne num dos principais veículos de divulgação da cultura no Algarve, para compensar a ausência de informação na Região.

A equipa de trabalho é composta, na sua maioria por voluntários. Apenas um membro da direcção é remunerado, juntamente com uma estagiária técnicoprofissional. A contribuição passa também por estagiários curriculares (neste momento dois), por doze alunos de Ciências da Comunicação, a realizar as aulas práticas nas nossas instalações e por um grupo de cerca de trinta colaboradores.

A Rádio Universitária do Algarve serve, também, como centro de formação e apoio ao ensino das Ciências da Comunicação e de Tecnologias ligadas à Radiodifusão, tendo já sido dados os primeiros passos, com a realização de cursos pelo CENJOR e de Técnicas de colocação voz, estando em preparação novas acções de formação e servindo as instalações da Rádio para as aulas práticas dos alunos de Ciências da Comunicação.

A presença virtual desta estação está ainda em fase de desenvolvimento. O que se prevê, segundo os responsáveis da estação, é que no website constem todas as actividades da RUA FM, nomeadamente rubricas, notícias, passatempos e eventos, emissão on-line e registo digital de tudo o que é emitido pela RUA FM.

3  Rádios Universitárias com emissão para o campus e a web

Em Lisboa, a Rádio Interna do Instituto Superior Técnico (IST) tem também uma longa história, havendo dados que remontam aos anos 60, na altura, denominada Secção Sonora e, mais tarde, a Rádio Universidade Tejo. Em meados da década de 90, surgiu a Rádio Interna do IST (RIIST http://ri.ist.utl.pt/), com períodos cíclicos de existência de 2 anos, tendo o último terminado em 2000. Tendo em consideração o vazio radiofónico que se fez sentir neste Instituto, a RIIST foi relançada com um projecto que tinha como principal objectivo a finalização destes avanços e recuos. Estreou-se em 2002 mantendo, em relação ao projecto anterior, o nome, algum material e os estatutos. De Setembro de 2002 a Dezembro de 2003, a equipa tentou angariar fundos para compra de material, bem como desenvolver o projecto e resolver as dissidências com o Conselho Directivo do IST em relação aos conteúdos que a RIIST teria. O lançamento das emissões foi feito em Dezembro de 2003, muito embora a primeira grelha de programas só tenha sido completada em Abril de 2004. Em Setembro desse ano começaram as emissões regulares da estação.

A RIIST é uma secção autónoma da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AE). A direcção da rádio é constituída por alunos e a única ligação directa com a AE é ao nível de espaço e material cedido, bem como denominações fiscais. No que respeita à constituição da equipa, a rádio tem colaboradores de todos os cursos do IST e de outras escolas de Lisboa, havendo inclusivamente colaboradores já formados. Todos colaboram em regime de part - time e voluntariado.

Em termos de conteúdos, esta é a única rádio universitária que não tem ainda estatuto editorial. A RIIST está numa fase de definição e mudança interna, com alteração de regulamentos, estudo para construção de novos estúdios e definição de identidade. No que respeita à informação, a RIIST tem estado a discutir os moldes em que a mesma se deverá alicerçar no futuro.

A ausência de uma playlist é a principal característica deste projecto que consegue ter conteúdos suficientes para preencher as suas horas de emissão sem recurso a animação de continuidade. A direcção da estação explicou que, neste momento, a aposta é feita nos programas de autor, com programas horizontais semanais em horário nobre sem uma divisão de conteúdos por dias da semana. A RIIST tem emissão no campus do IST durante a tarde e o horário mais forte é o almoço. É nestas horas que se encontram os programas mais importantes destinados a uma maior audiência. Um mais comercial (Prato do Dia) e um dedicado exclusivamente à música portuguesa (PIB). Durante a tarde há também programas de autor, procurando criar uma programação com estilos musicais genéricos. Os programas de entrevistas estão na grelha nocturna quando a emissão é feita exclusivamente on-line, dado que, durante a tarde no campus do IST, estes estariam subaproveitados, pois os ouvintes estão em circulação e com pouca disponibilidade para escutar atentamente um programa desta natureza. Durante a madrugada e fim-de-semana, há repetição dos programas.

Outra das apostas da estação é a criação de espaços para rádio experimental. A RIIST tem um espaço denominado Aves Raras, onde têm lugar programas de rádio experimentais, sendo esta a primeira rádio portuguesa a integrar uma rede europeia de rádios experimentais, das quais fazem parte a ResonanceFm, de Londres e Reboot.fm de Berlim, entre outras.

A componente web é obviamente, o aspecto principal desta estação, com um web site que inclui os conteúdos a estação, notícias e emissão on-line. Para o caso, importa perceber as capacidades do streaming, dado o facto de parte da emissão de fazer exclusivamente por esta via. Segundo as informações da direcção da estação, o número máximo de ouvintes que a RIIST consegue ter é de setenta escutas em simultâneo, o que permite considerar que o streaming tem capacidade para mais ouvintes. Contudo, a média de ouvintes ligados tem sido entre 10 a 20 em simultâneo.

4  Webradios universitárias

Também em Lisboa, existe um projecto com emissões exclusivas na web.

Criado no Instituto Piaget, este projecto emite exclusivamente para a Internet, assumindo-se como a primeira iniciativa do género em Portugal. A Rádio 351 (http://www.radio351.com) emite em suporte Web, 24 horas diárias uma programação generalista e diversificada -- música, programas temáticos, entrevistas e informação. Trata-se de projecto media dinamizado simultaneamente por profissionais e por alunos estagiários da Licenciatura em Ciências da Comunicação.

A programação é variada, essencialmente musical e abrange os vários géneros musicais, em emissões de continuidade e programas de autor. Há também rubricas variadas que preenchem as emissões desta webradio, nomeadamente um espaço de covers para redescobrir velhos sucessos em novas versões; outro sobre Internet; novas edições de DVD e lançamentos em VHS no que respeita a cinema e música; agenda de concertos, cinema, teatro e exposições; bem como a revista de imprensa diária, um olhar sobre as manchetes dos principais matutinos e desportivos nacionais. E o jornal de desporto, as notícias que marcam a actualidade desportiva.

Dada a sua existência virtual, o website desta estação é um suporte às suas emissões, apresentando também notícias de actualidade.

Paralelamente, esta estação tem um fórum de discussão com vários temas relativos à instituição à qual pertence e uma sala de conversação para utilizadores registados.

De todas as estações em análise, muito embora não seja o website mais completo em termos de conteúdos, dada a sua natureza virtual, é o mais estimulante em termos gráficos. A página de entrada inclui passatempos e votações, bem como os destaques em termos de actualidade informativa e musical.

5  Conclusão

Em Portugal, o universo radiofónico assume características próprias, sendo difícil catalogar de forma linear os diferentes projectos de rádio. Quanto ao nível da cobertura, os serviços de programas podem ser de âmbito nacional, regional ou local. Relativamente aos conteúdos, existem rádios generalistas e temáticas, públicas e privadas. Destas, há generalistas públicas e privadas, com emissão nacional, regional ou local; e temáticas públicas e privadas, com emissão nacional, regional, local e em cadeia. Na generalidade, as estações organizam-se mais pela sua especialização musical ao nível do conteúdo dos programas e público-alvo, do que propriamente pela tematização.

Os jovens em Portugal são alvos de estratégias de comunicação radiofónica específicas, quer da parte de estações públicas e privadas, bem como por parte das rádios universitárias (que se incluem no grupo das rádios generalistas com emissão local). Dado o facto da rádio privada ter fortes preocupações com a rentabilidade e optar por oferecer um produto de entretenimento puro, numa perspectiva mais comercial do meio, sem grandes preocupações artísticas ou ao nível da informação de actualidade, são os sistemas alternativos de comunicação radiofónica, como o Serviço Público e as rádios universitárias que têm vindo a desenvolver programações que fogem ao ritmo da comunicação radiofónica comercial, apresentando elementos na sua programação de carácter experimental e de formação de novos valores, contribuindo para o debate de ideias e fomento da aproximação entre a rádio e os ouvintes.

A história das rádios universitárias em Portugal começa na década de 50, em Coimbra, com as primeiras iniciativas deste género. Os projectos mais recentes, têm objectivos semelhantes mas um carácter e estrutura diferenciados, apresentando uma evolução que acompanha o pulsar académico e própria sociedade nacional. A contribuição e influência das rádios universitárias no desenvolvimento da formação de futuros profissionais, aliada à importância no contexto da comunicação radiofónica em geral são inegáveis e, num contexto em que a principal preocupação é a rentabilidade da estação, as rádios universitárias apresentam-se como elementos que oferecem alternativas de programação e formação. A salvaguarda de alguns interesses, nomeadamente a promoção da língua e cultura portuguesas, contribuindo para a informação e recreação do público em geral, atendendo à sua diversidade de idades e interesses, particularmente o público universitário e as minorias culturais, permitem que estas rádios fomentem de forma independente e pluralista, o esclarecimento, a formação e a participação cívica e política da população. Dada a existência de vários cursos universitários na área da comunicação, aliados à existência de apenas um curso técnico-profissional na área da rádio em todo o país, estas rádios assumem-se como ponte entre o meio académico e o meio profissional e, acima de tudo, como verdadeiras escolas de rádio, permitindo aos alunos das universidades em questão, a prática da rádio e a formação de futuros profissionais da área.


1
Mestre em Ciências da Comunicação. Universidade do Algarve. E-mail: pcordei@ualg.pt - www.ualg.pt/ese. Este texto foi apresentado no I Encuentro Iberoamericano de Radios Universitarias em Granada, 13 a 16 de Março de 2005