JORNALISMO E ELITES DO PODER
Estrela Serrano, Escola Superior de Comunicação Social
1999
1- Introdução
Nas sociedades contemporâneas o conhecimento
constitui um princípio de hierarquização social tão importante como a propriedade,
pelo que o poder de informar representa um poder enorme. Os jornalistas e as
suas fontes contribuem, conjuntamente, para articular e definir os contornos
da sociedade do conhecimento, reproduzindo as estruturas do poder e do saber.[1]
Através de processos de selecção e de enquadramento,
e ao fazerem circular as informações, os media orientam a opinião pública e
estabelecem a agenda dos consumidores de notícias. O público fala dos assuntos
de que falam os media.
As notícias são versões da realidade baseadas, em grande
parte, em normas e convenções profissionais dos jornalistas. Ao realizarem o
trabalho informativo, os jornalistas estão implicitamente a construir significados
que dão sentido ao mundo. É a ordenação e o enquadramento dos factos que permite
o seu reconhecimento e lhes atribui significado. Como refere Gaye Tuchman, os
media são o braço da ordem cultural da qual procedem. [2]
A literatura sobre a cobertura jornalística de acontecimentos
de rotina [3] tende a confirmar a preponderância
das fontes ligadas às elites do poder, relativamente a outras fontes. Esta conclusão
está implícita nos trabalhos de Herbert Gans [4] e Tuchman
[5] e mais explícita noutros estudos. Léon Signal [6] mostrou que a maioria
das “estórias” de primeira página do New York Times e do Washington
Post eram fortemente inspiradas por fontes governamentais, sendo que muitas
delas tinham origem em canais de rotina como conferências de imprensa, comunicados
e outras iniciativas oficiais. Em 1987, Brown, Bybee, Wearden e Straughan
[7] confirmaram e ampliaram o estudo de Sigal e provaram que a maioria
das notícias de capa provinham de canais de rotina e eram oriundas de fontes
governamentais. Por seu turno, Gans [8] afirma que uma forte ligação entre os jornalistas
e entidades oficiais conduz os media a apresentarem uma imagem muito específica
da sociedade e das suas instituições. Contudo, Tuchman [9] refere que as notícias não se limitam a reflectir
a realidade, criam-na também, agindo de uma maneira dialética, isto é, ao mesmo
tempo que apresentam determinadas concepções da realidade, contribuem para modificar
a percepção dessa realidade. Outros investigadores como Stephen Hess e Richard
Ericson nos EUA, Philip Schlesinger e Roger Grab no Reino Unido, Dominique Wolton
e Régis Debray em França, têm tratado de uma maneira sistemática esta matéria.
Este texto pretende, dentro das limitações
impostas pelo contexto em que é apresentado, analisar o grau de convergência
e de divergência existente entre fontes e jornalistas, debruçando-se sobre os
processos pelos quais as fontes ligadas às elites do poder político controlam
a sua imagem, interferem na autonomia dos jornalistas e usam a lógica dos media.
2- As novas regras de funcionamento da actividade
política
A vida política é hoje influenciada por um conjunto de técnicas
(os media e as sondagens), de actores (os jornalistas e os conselheiros de comunicação)
e de práticas (o marketing político). Confrontada com esta evolução, a actividade
política organiza-se em torno de novas regras de funcionamento, adaptando-se
à chamada “mediatização da vida política”.
[10]
A comunicação tornou-se parte integrante da actividade política
e a explosão dos processos de comunicação política é fruto de um conjunto de
actores que neles têm interesse: por um lado, os conselheiros de comunicação
e os publicitários que tentam convencer os seus clientes potenciais a confiarem-lhes
a preparação das suas prestações mediáticas e das suas campanhas eleitorais,
colocando ao seu serviço a sua criatividade, a sua competência técnica e o seu
saber e procurando, como escreveu Patrick Champagne, [11] produzir nos meios políticos a necessidade do
seu produto; por outro, a mediatização da vida política obriga os políticos
a tornar a sua acção tão espectacular quanto possível, a fim de interessar os
media, sobretudo a televisão. A política tornou-se, assim, lugar privilegiado
do espectáculo.
Como refere Debray, sempre os Estados fizeram a sua publicidade [12] . Hoje, contudo, a comunicação
do Estado tornou-se o essencial da sua acção.
Nas sociedades democráticas em que os sistemas
políticos consagram o sufrágio universal como forma de escolha dos governantes,
as estratégias de comunicação política passam, cada vez mais, pelo recurso à
criação de acontecimentos destinados a atrair os jornalistas para “terrenos”
em que os promotores possuem uma capacidade de controle e de influência, superior
ou distinta, da estabelecida habitualmente entre fontes e jornalistas.
O Estado tem de produzir, nos dias de hoje, uma quantidade
crescente de imagens e de sons. É necessário alimentar, dia a dia, a máquina
dos media. Uma “acção de comunicação” raramente rende mais que um ou dois dias.
Tornou-se, assim, quase natural a existência de uma cultura de governo, asfixiada
e telecomandada pelos media, pelo seu ritmo e pelas suas exigências, o que levou
ao empolamento espectacular de certos sectores de actividade, alguns deles menores [13] .
Derville afirma que a mediatização da política está na origem
de transformações estruturais no seu funcionamento, que levaram à emergência
de novos actores e ao desaparecimento de outros; a uma acentuação da conivência
entre jornalistas e organizadores de acontecimentos; e ao surgimento de formas
de pressão para a introdução de mecanismos de democracia directa [14] . Na medida em que as notícias
sobre política são, sobretudo, sobre a luta pelo poder e só secundariamente
sobre a governação, isto é, sobre a aplicação do poder, os imperativos de comunicação
sobrepõem-se aos imperativos de gestão. Os políticos dedicam mais tempo a dar
visibilidade às suas acções do que a reflectir e a decidir.
Estudando a grande manifestação de camponeses em Paris em
1982, Patrick Champagne [15] notou a preocupação
dos sindicalistas em organizar a manifestação segundo um cenário previsto para
atrair os media.
Champagne alude a uma cumplicidade próxima da promiscuidade
entre jornalistas e políticos, em que os jornalistas ora surgem como manipuladores
ora como objecto de manipulação, o que o leva a considerar o jornalismo como
"um sub-campo da política" e a falar de "pessoal jornalístico-político".
Debray, por seu turno, fala de uma “classe político-mediática” [16] .
3- Convergências
As notícias são representações da autoridade. Através delas os
jornalistas e as fontes possuem o poder de decidir quem tem voz e quem é excluído
do acesso ao espaço público. Alguns autores
[17] consideram existirem interesses convergentes entre fontes e jornalistas
na organização de manifestações públicas com algum grau de espectacularidade:
os jornalistas ganham a certeza de uma notícia palpitante e os organizadores
conseguem o efeito “bola de neve”, porque os media anunciam, acompanham e amplificam
o impacto da acção que eles organizaram. Por outro lado, a ideia de “jogo” (quem
ganha e quem perde) que caracteriza a actividade política é extremamente atraente
para os jornalistas porque lhes permite alimentarem as suas “estórias” durante
um certo tempo. Richard Erickson, Patricia M. Baranek, Janet B.L. Chan, estabelecem
uma ligação entre as elites do poder e as elites dos media. [18]
O sociólogo americano Michel Schudson
[19] interroga-se sobre o papel do jornalista na divulgação da informação.
Recorda o conceito de Walter Lipmann no seu livro Public Opinion escrito
em 1922, em que ele defendia que a função das notícias é assinalar um evento
enquanto a função da verdade é iluminar o lado oculto dos factos, relacionando-os
com outros. Só quando as condições sociais se tornam reconhecíveis e mensuráveis,
escreve ele, verdade e notícia coincidem. Lipmann sentia que os jornais não
tinham acesso especial à verdade. A sua responsabilidade era publicar notícias
e a sua capacidade de publicar melhores notícias dependia apenas da capacidade
do governo e de instituições independentes lhes fornecerem melhor e mais credível
informação. Contudo, a partir dos anos 20, tornou-se mais claro que esta era
uma ideia demasiado estreita para definir o papel da imprensa, sobretudo se
a credibilidade do governo e das instituições independentes fosse duvidosa.
Se os eventos são espontâneos e existe uma relativa transparência nas ocorrências,
então o relato dos acontecimentos pode satisfazer o jornalista. Mas se os eventos
são, eles próprios construídos e reconstruídos por indivíduos e instituições
com grande poder na sociedade, limitar-se a reportar as notícias é, não só uma
tarefa incompleta como também distorcida.
A produção de eventos constitui um dos principais instrumentos da acção política.
Boorstin chama-lhes “pseudo-eventos” e define-os como possuindo as seguintes
características: não são espontâneos; surgem porque foram planeados; são criados
para serem cobertos pelos media; o seu sucesso mede-se pela amplitude da sua
cobertura; a sua relação com a realidade subjacente à situação é ambígua; geralmente,
funcionam como uma auto promoção [20] .
Os políticos são os maiores criadores de eventos. Nos EUA, Roosevelt, com a
colaboração de um amigável conjunto de jornalistas que integravam o press
corps da Casa Branca, tornou-se um fazedor de pseudo-eventos e de sound-bites
que enchiam as primeiras páginas dos jornais, transformando as conferências
de imprensa, habitualmente rituais sem interesse, na maior instituição nacional
fazedora de notícias, através de um processo informal de conversa e troca de
ideias. Sabendo como os jornalistas vivem ávidos de notícias, Roosevelt ajudava-os
a construí-las, orientando-as segundo os seus próprios interesses.
[21]
Boorstin afirma que nos tempos actuais é possível construir uma carreira política
inteiramente com pseudo-eventos. E aponta o caso de McCarthy que inventou a
conferência de imprensa da manhã para anunciar a conferência de imprensa da
tarde. Os repórteres acorriam e preparavam os títulos para os jornais do dia
seguinte com o anúncio das revelações que McCarthy dizia que faria à tarde,
a uma hora que não permitia divulgação no dia seguinte. Os jornais eram, assim,
alimentados com anúncios que muitas vezes falhavam [22] .
Sem a ajuda dos jornalistas, os políticos não poderiam criar os eventos que
lhes trazem poder e notoriedade. Os jornalistas são, nesta matéria, aliados
dos políticos.
As instituições políticas são grandes produtoras de pseudo-eventos. Uma grande
percentagem das notícias publicadas na imprensa escrita inclui informação baseada
em comunicados, estudos ou relatórios. [23] . Os próprios jornalistas consideram que a imprensa concede
demasiada atenção a eventos, com prejuízo da investigação própria. Contudo,
fiéis ao princípio de que a primeira missão de um jornal é produzir diáriamente
notícias de actualidade, dedicam-se, sobretudo, à descoberta de novas "estórias".
As democracias modernas multiplicaram os pseudo-eventos e desenvolveram profissões
que os criam e ajudam a interpretá-los. A desproporção entre o que os cidadãos
necessitam de saber e o que podem saber é cada vez maior. Essa desproporção
cresce com o aumento da capacidade de esconder e orientar a informação por parte
do poder. Os jornalistas necessitam de corresponder a esse crescimento e assim
seleccionam e procuram novos temas para informar.
O jornalista é ele próprio um gerador de notícias. Ao insistir junto dos assessores
e dos políticos para obter novos ângulos e novas abordagens que lhe permitam
apresentar novas "estórias", está a criar pseudo-eventos. É vulgar
os jornalistas solicitarem comentários por parte dos políticos a situações hipotéticas,
gerando notícias completamente fictícias do ponto de vista da sua espontaneidade.
É o que se chama “fazer render as notícias”.
[24]
A pressão do tempo e a necessidade de conseguir uma corrente contínua de notícias
leva os jornalistas, sobretudo os correspondentes ou os que são destacados junto
de instituições, ao uso de entrevistas e outras técnicas de criação de pseudo-eventos,
algumas muito agressivas e engenhosas.
As novas formas de criação de pseudo-eventos, especialmente no campo político,
baralham os papéis de políticos e jornalistas. O político, de algum modo compõe
a "estória" (por exemplo ao fazer uma conferência de imprensa). O
jornalista, por seu turno, pressionando o político para fornecer comentários
ou entrevistas, é um criador de notícias. Esta situação torna difícil aos cidadãos
perceberem o que é, de facto, a realidade quando os próprios protagonistas também
não sabem.
Os jornalistas procuram constantemente novas “estórias” e os líderes políticos
são a sua fonte principal. Para saberem o que eles pensam e fazem, cultivam
relações com os políticos. Por seu turno, os políticos necessitam dos media
para fazerem chegar ao público as suas mensagens. Por isso, cultivam igualmente
relações com os jornalistas: promovem briefings, garantem-lhes acesso a locais
e a eventos oficiais e, por vezes, fornecem-lhes espaço de trabalho.
A produção de notícias é, assim, um processo de negociação e de renegociação
constante, através do qual os reporteres identificam o tipo de pessoas que servirão
como boas fontes de informação sobre os acontecimentos produzidos.
Gaye Tuchman vê nos procedimentos profissionais que levam os jornalistas a solicitar
reacções e comentários aos acontecimentos por parte de figuras institucionais,
o privilegiar de líderes legitimados, deixando ao “homem da rua” o papel simbólico
de representação de outros e não de representante de outros.
Para a maioria dos jornalistas que cobrem a política o conceito de notícia abrange
actividades concretas como uma votação, uma decisão de um órgão de soberania,
um discurso presidencial ou ministerial que ocorra no espaço de 24 horas. A
grande maioria das notícias incide sobre eventos que aconteceram no dia anterior,
no próprio dia, ou que é suposto acontecerem no dia seguinte. Ora, a concentração
do jornalismo nos eventos é propensa a uma eficiente intervenção dos staffs.
Um bom exemplo do entrosamento entre sujeito e objecto, entre história e historiador,
entre actor e repórter, é a chamada “fuga” de informação. A "fuga"
tornou-se uma instituição, sendo um dos processos mais usados na transmissão
de informações por parte das fontes oficiais. Boorstin [25] define a “fuga” como um meio, através do
qual uma fonte oficial com um propósito bem definido, fornece uma informação,
faz uma pergunta ou uma sugestão. Mais que um anúncio directo, a "fuga"
presta-se muito melhor a esconder determinados objectivos
A "fuga" é o pseudo-evento por excelência. Na sua origem e crescimento,
a "fuga" ilustra outro dos axiomas do mundo dos pseudo-eventos: um
pseudo-evento produz novos pseudo-eventos. A "fuga" começou como uma
prática ocasional de uma fonte oficial transmitir informação confidencial a
alguns jornalistas. Hoje, tornou-se uma maneira institucional de transmitir
informação. A sua ambiguidade e o ambiente de confidência e intriga em que se
processa criam um clima de confiança entre jornalistas e fontes. As regras respeitantes
ao “off record” e à atribuição das fontes são especialmente importantes no caso
das “fugas” de informação.
A chamada informação de background e os encontros off-record tornaram-se,
por outro lado, uma espécie de balões de ensaio ou mesmo instrumentos diplomáticos.
São, muitas vezes, a base de desmentidos oficiais e de especulação para colunistas
e comentadores além de temas de entrevistas e discussões públicas.
A técnica da conversa de background em que os políticos fornecem enquadramentos
dos factos aos jornalistas, é um sistema colaboracionista que produz a impressão
de uma franqueza e espontaneidade naturais. É uma maneira de fornecer notícias
ou matérias para artigos de opinião, geralmente favoráveis aos políticos, mas
que interessam aos jornalistas dado satisfazerem a sua avidez de informação
e lhes proporcionarem relações pessoais com o poder. Esta prática tornou-se
hoje corrente por parte de políticos e jornalistas que vêem nela uma fonte de
inspiração para os seus textos.
Boorstin refere que em Washington um bom teste para avaliar as aptidões de um
repórter reside na capacidade que ele possuir de penetrar nessas zonas recônditas
e sombrias da informação, de conseguir uma relação com fontes bem colocadas
e desenvolver um vocabulário específico relativamente a este tipo de situações.
Esses repórteres vivem numa penumbra entre factos e fantasias. Ajudam a criar
obscuridade, quando era suposto esclarecerem. Estas aptidões são também característica
das fontes importantes: “Saber negar a verdade sem realmente mentir”.
[26]
A explicação para esta conjugação de interesses entre jornalistas e políticos,
aparentemente contraditória, reside, em parte, na própria natureza do trabalho
jornalístico. Como escreveu Thomas Patterson [27] a política não é o que mais interessa aos jornalistas. O mais
importante para um jornalista é ter uma “estória” para contar. Numa visão estilizada
do processo de produção de notícias, Murray Edelmen [28] afirma que os media decidem
o que é importante para ser noticiado, algumas pessoas e instituições são aceites
como “fontes de informação” e alguns eventos são considerados como possuindo
suficiente interesse para o público.
Uma outra forma de confluência entre políticos e jornalistas verifica-se ao
nível da opinião publicada nos media. Com efeito, a
par de espaços de opinião geralmente da autoria de figuras ligadas à política,
no chamado jornalismo político as notícias "interpretativas" ganharam
terreno, sobretudo na imprensa escrita. Por outro lado, nos últimos anos os
jornalistas da imprensa escrita passaram a ser convidados pelos seus colegas
da televisão para comentarem assuntos políticos (e outros), tornando-se, em
muitos casos, comentadores residentes, ao lado de políticos profissionais. É
através deles que a opinião política é veiculada.
Embora referindo-se especificamente aos intelectuais, Pierre Bourdieu afirma
que “os jornalistas têm em agenda uma série de pensadores tipo “fast-food” sempre
prontos a avançar para comentar este ou aquele acontecimento”, em vez de irem
buscar jovens investigadores com trabalho feito. Bourdieu fala desses convidados
permanentes que estão em todos os debates e que formam grupos que depois se
auto-mantêm e auto-reforçam, estabelecendo toda uma série de ligações e compromissos
suspeitos com os jornalistas. [29]
Num debate organizado pela Columbia Journalism Revue [30] , a propósito do envolvimento militante dos media relativamente
ao caso Clinton/Lewinsky, a correspondente da Casa Branca da Rádio Pública Nacional
dos EUA afirmou que a maioria dos jornalistas que surgiram a falar do caso faziam-no
como comentadores e, portanto, emitiam apreciações pessoais. Não agiam como
repórters baseados em fontes credíveis ou em investigação própria.. O problema,
segundo um dos participantes nesse debate, está no facto de o público nem sempre
perceber a diferença entre comentadores e repórteres, levando-o a avaliar os
media e o jornalismo como um todo que realmente não são.
4- Conflitos
Apesar das razões naturais para a cooperação
entre jornalistas e políticos existem igualmente entre eles motivos naturais
de conflitos. Como profissionais, os jornalistas pretendem tomar as suas próprias
decisões e receiam ser manipulados por parte dos políticos ou dos seus assessores.
Por seu turno, os políticos receiam que os jornalistas deturpem as suas mensagens
ou as voltem contra eles.
O surgimento das relações públicas e a crescente
consciencialização do governos de que podem usar em seu proveito as notícias,
paralelamente à também crescente consciencialização da imprensa de que tem de
lutar contra a manipulação das notícias, levaram os jornalistas a não se contentarem
com a simples obtenção de notícias.
O papel dos media face ao poder político evoluíu de uma fase
de reverência, sobretudo em algumas democracias ocidentais para outra, situada
por alguns autores nos anos sessenta, em que os jornalistas deixaram de dar
apenas cobertura aos líderes políticos para passarem a criticá-los e escrutinar
as suas acções e atitudes. O modelo de um jornalismo crítico e activo colocou
sob constante vigilância os aspectos mais controversos da sociedade e o comportamento
dos políticos. Os políticos, sobretudo os governantes, passaram a estar permanentemente
sob o olhar do cidadãos. Os jornalistas interrogam-nos, as sondagens dão conta
do seu grau de aceitação ou rejeição. O poder político é, assim, obrigado a
gerir ao mesmo tempo o acontecimento e as reacções múltiplas e cruzadas da opinião
pública. [31]
Os jornalistas (e os institutos de sondagem) são actores
políticos que nenhum político pode desprezar na sua actividade quotidiana. Eles
desempenham a vários níveis um papel importante na actividade governamental
pela capacidade que possuem de forçar a discussão de determinados temas que
não seriam prementes se não surgissem como “temas quentes” nas manchettes dos
jornais ou em reportagens televisivas. Os media interferem na actividade dos
governos, marcam a agenda, colocando os políticos sobre pressão constante e
obrigando-os a tratar com urgência determinadas questões que requerem aprofundamento
e estudo. Contudo, apesar de os jornalistas serem, cada vez mais, actores políticos, [32] os seus valores são diferentes
e colidem muitas vezes com os valores políticos. O tempo dos media e o tempo
da política não são compatíveis. Os media precisam de boas “estórias” que enfatizem
os aspectos fora do comum, controversos ou dramáticos do mundo e da política.
Os media orientam-se para acontecimentos que possam constituir-se em oportunidades
de notícias, não para valores de natureza política. Mas as sociedade evoluem
lentamente e não ao ritmo dos media. Por isso, os problemas críticos e crónicos
não são geralmente notícia. Pelo contrário, os acontecimentos abruptos têm cobertura
garantida, embora na maioria dos casos os desenvolvimentos subsequentes sejam
esquecidos. Ocasionalmente, os media revisitam os assuntos a que deram primeira
página mas raramente os acompanham sistematicamente.
De um modo geral, políticos, jornalistas e analistas não
se entendem sobre o papel dos media no que se refere, por exemplo à instituição
presidencial. No último ano, mercê dos escândalos que envolveram a presidência
americana, foram inúmeros os debates sobre essa questão. James Carey, professor
na Columbia Graduate School of Journalism considera que a imprensa e a presidência
têm vindo a degradar-se mutuamente, e afirma que a imprensa não devia destruir
a autoridade da instituição presidencial, porque os presidentes passam mas a
instituição permanece. Por isso, diz ele, vale a pena preservá-la [33] .
Opinião diferente é manifestada por Maxwell King do Philadelphia
Inquirer que afirma que não compete ao jornalista apoiar a instituição presidencial,
sem prejuízo de manter com ela uma boa relação. "Como jornalista",
diz ele, "sentir-me-ia desconfortável com a ideia de ter de tratar uma
instituição ou uma pessoa de uma maneira especial".
[34]
Outros, como David Laventhol do Times Mirror, afirmam
que a imprensa trata o Presidente de uma maneira especial porque é destacada
precisamente para cobrir os seus actos. O seu objectivo é, então, "apanhar"
o Presidente. [35]
Em vez de uma dependência ou autonomia absolutas
dos jornalistas relativamente às fontes, creio dever falar-se de uma interdependência
que umas vezes torna uma das partes mais forte em relação à outra na influência
e na definição daquilo que chega ao conhecimento do público, da maneira como
chega e do momento em que chega.
5- As fontes legitimadas
Uma "estória" é um mosaico de factos
e de citações de fontes que participaram num acontecimento ou dele têm conhecimento.
Para conseguir uma "estória" o repórter tem de saber a quem fazer
perguntas e quem pode e tem competência para falar. A entrevista é o instrumento
de pesquisa. Uma "estória" depende de o repórter conseguir ou não
que as fontes digam qualquer coisa com "valor-notícia".
Os repórteres políticos cultivam as suas fontes.
O acesso às elites do poder é essencial para um repórter político. As notícias
políticas resultam de um processo de negociação entre fontes e jornalistas baseado
em relações de confiança e, muitas vezes, de cumplicidades. A maioria das "estórias"
sobre política baseiam-se em conversas informais ou entrevistas, ao contrário,
por exemplo, das notícias sobre economia e justiça baseadas, sobretudo, em documentos.
Sephen Hess afirma que os repórteres da Casa Branca são os
que menos documentos usam para escrever as suas "estórias". [36]
A maior parte das "estórias" publicadas nos media
não resulta, pois, de investigação dos próprios media. No jornalismo político
os repórteres limitam-se quase sempre a verificar informação que lhe chega através
das fontes, ler o que escreveram outros jornalistas sobre o mesmo assunto, relacionar
os factos, ouvir os intervenientes e tentar publicar primeiro que os outros.
A ausência de investigação sistemática nos media é explicada por vários autores,
[37] com a pressão imposta pelos deadlines e por outro tipo
de constrangimentos que caracterizam a produção jornalística, sobretudo nos
jornais diários. Em geral, os jornalistas que cobrem a política fazem muito
pouco uso dos documentos disponíveis nos centros de documentação e nas redacções, [38] construindo as suas "estórias" apenas
com base nos contactos com as assessorias de imprensa ou com os próprios políticos.
As instituições políticas não oferecem todas
idênticas facilidades de acesso. Para os repórteres que cobrem o Parlamento
ou o Senado nos EUA, por exemplo, é mais fácil o acesso directo aos políticos
do que para os que cobrem a Presidência ou o Governo onde o controle das fontes
é mais apertado. Nos EUA o acesso ao Presidente é facilitado pela pratica dos
briefings diários.
O êxito do trabalho dos promotores de acontecimentos deve-se em grande medida
à necessidade que os media possuem de notícias, embora, como assinalam Molotch
e Lechner [39] , a existência
dessa necessidade não signifique conicidência de interesses no que se refere
aos objectivos a atingir. Pelo contrário, o que se verifica é um conflito entre
os geradores de acontecimentos e o trabalho dos media, o que provoca, por parte
dos promotores, pressões no sentido de alterar a seu favor as rotinas produtivas
dos jornalistas. Essas pressões exercem-se de variadas maneiras e a vários níveis
que podem ir do político ao económico, por exemplo, através de cortes de publicidade.
Os promotores melhor posicionados para o acesso
aos media são os que estabelecem relações habituais e frequentes com os jornalistas,
isto é, os que produzem fluxos de informação frequentes.
O acesso habitual aos media verifica-se, sobretudo,
por parte de instituições e entidades situadas na esfera política e institucional,
quer através de funcionários especializados, quer através de pessoas ligadas
directamente à vida política, as quais cultivam relações com os jornalistas
de uma maneira assídua e por vezes muito próxima, como acontece com os “correspondentes”
e os jornalistas acreditados junto de instituições que produzem um grande fluxo
de notícias.
São, pois, as fontes "institucionais"
organizadas e profissionalizadas as que mais acesso têm aos media, constituindo
um importante sustentáculo das relações de poder instituídas, aspecto acentuado
por Gaye Tuchman que coloca a questão de saber até que ponto os media são um
agente de legitimação da ordem existente.
Os jornalistas preferem cobrir instituições com prestígio
porque elas lhes trazem também prestígio. O citado estudo de Stephen Hess junto
dos repórteres que trabalham em Washington, apurou que os jornalistas que cobriam
os assuntos políticos, científicos, a Casa Branca e a diplomacia, possuíam um
maior grau de satisfação relativamente ao seu trabalho do que os jornalistas
que habitualmente cobrem assuntos regionais, de justiça ou instituições menos
importantes. [40] Contudo, os repórteres
políticos possuem, em geral, um maior grau de autonomia relativamente a iniciativas
sobre temas a tratar e os seus textos sofrem, em geral, menos adaptações, além
de terem maior destaque.
Autores como Richard Ericson analisaram a "relativa
autonomia" dos jornalistas destacados em permanência para acompanharem
determinadas organizações e explicam como eles influenciam a própria vida interna
das instituições e se tornam parte da organização junto da qual são observadores.
O jornalista "dá sentido" às iniciativas da organização e com isso
afecta as relações sociais no seio da referida organização. Existe entre ambos
uma relação de interdependência. Apesar de as fontes controlarem, em parte,
o processo de produção de notícias, esse controle não é total, na medida em
que lhes escapa o controle da edição de textos; por exemplo, os "cortes"
e as "montagens" são exclusivamente da responsabilidade dos media.
Aliás, o facto de as organizações recorrerem a publicidade paga e a existência
de protestos por parte das fontes relativamente a determinadas matérias publicadas,
são a prova de que as fontes não controlam todo o processo informativo.
Há instituições que os media cobrem de uma
maneira diferente, como a justiça e a instituição militar. Aí, ou existe uma
aura de mistério que assegura o seu anonimato e facilita o seu funcionamento,
como na magistratura, ou se invoca o “segredo de Estado” ou a “segurança nacional”,
como acontece em períodos de conflito para justificar o controle da informação.
Schlesinger [41] analisou o tratamento
dos conflitos do Vietnam e das Falkland nos media americanos e as cumplicidades
que se estabeleceram entre os jornalistas que cobriram esses conflitos e as
fontes oficiais. Referindo-se aos argumentos usualmente utilizados pelas elites
militares para explicarem a interferência nos media, Schlesinger aponta as distinções
entre “guerra total” (a II Grande Guerra), “guerra não declarada” (a Guerra
do Vietnam) e “comprometimento parcial” (o conflito Falkland/Malvinas), tendo
a “censura oficial” e outras formas de controle da informação sido diferentes
em cada uma destas situações. Para este autor, a dependência dos media americanos
das fontes oficiais na definição da agenda política levou os jornalistas a espelharem
os consensos e as contradições da classe política, marginalizando os protestos
contra a guerra e as posições minoritárias, só fazendo eco das opiniões divergentes
quando as divisões se verificavam nos meios oficiais. Contudo, apesar da hegemonia
das definições oficiais, as mudanças na redefinição da agenda acabaram por surgir.
A dependência das fontes em que os jornalistas são colocados quando cobrem conflitos
como os do Vietnam, Falkland e Guerra do Golfo deve-se à necessidade de autorização
e apoio das autoridades oficiais, não apenas para que a sua acreditação seja
possível, mas também para poderem realizar as tarefas mais óbvias do seu trabalho,
como sejam a deslocação aos locais do conflito e a transmissão da informação.
Por outro lado, o sistema de pool que é geralmente imposto nessas situações
pode significar obstrução ao trabalho de informar sem que possa, abertamente,
falar-se de censura institucionalizada.
No final de um ano que culminou com o bombardeamento americano
ao Iraque e o processo de destituição do Presidente Clinton a imprensa americana
foi caracterizada por Norman Solomon, colunista do New York Times, num
debate transcrito na Internet, como seguidista em relação à administração, ignorando
as opiniões críticas e utilizando eufemismos para não mencionar a morte de iraquianos
civis. [42]
6- A "cultura da sala de imprensa"
Particularmente importante para o conhecimento das relações
entre os jornalistas e o poder político é a chamada “cultura da sala de imprensa”,
isto é, a participação dos repórteres numa cultura comum construída no convívio
diário uns com os outros e na familiaridade que estabelecem com as fontes. [43] Essa familiaridade
está patente na maneira como os repórteres abordam as fontes e como estas correspondem
com um tratamento familiar e amistoso.
[44] Tuchman refere que os jornalistas associam a credibilidade
de uma fonte à sua posição hierárquica, considerando que uma fonte com status
é, em princípio, uma fonte credível. Isso leva os jornalistas a preferirem as
fontes institucionalizadas a fontes como o cidadão comum. Para Tuchman a notícia
apoia-se nas estruturas institucionais ao mesmo tempo que as reproduz. As notícias
justificam o poder das instituições legitimadas.
[45]
A cobertura de uma campanha eleitoral introduz algumas alterações
à rotina do trabalho jornalístico e à sua relação com as fontes, constituindo
um bom campo para a análise das relações entre fontes e jornalistas. [46]
A cobertura é estruturada em “pacotes” de informação
baseados em materiais oriundos de conferências de imprensa, de fait-divers da
campanha, discursos dos candidatos, eventualmente, sondagens de opinião, reacções
dos candidatos aos acontecimentos do dia e reportagens pré-gravadas sobre os
círculos eleitorais. Por outro lado, sobretudo no que respeita à televisão,
a cobertura estrutura-se em dois eixos: o “centro” (a redacção onde os noticiários
são construídos) e a “periferia” (o terreno onde decorrem as operações de campanha).
Esta aparente inversão entre o “centro” e a “periferia” deve-se ao facto de
as condições tecnológicas facultarem o acesso directo aos acontecimentos a partir
da redacção, o que permite ganhar tempo em termos de inclusão de determinadas
peças. Esta circunstância conduz à marginalização do repórter em serviço nos
locais onde decorrem as acções de campanha (quase sempre as sedes partidárias).
A cobertura das campanhas eleitorais atinge
uma extrema rotinização, não apenas pelo seu caracter centralizado, mas também
pela própria natureza das fontes utilizadas e das estratégias por elas usadas
para atraír os jornalistas. De facto, o profissionalismo dos “promotores” de
acontecimentos, que no caso dos partidos políticos atinge, por vezes, grande
sofisticação, aliado às pressões do tempo e à própria natureza do trabalho jornalístico,
conduz a situações de verdadeira dependência dos jornalistas face às fontes.
Esse problema é ainda agravado quando são os serviços dos partidos a organizarem
e muitas vezes pagarem as salas de imprensa, o transporte e a alimentação dos
jornalistas para a cobertura das acções de campanha quando realizadas fora da
área da sua residência.
O jornalista americano Thimoty Crouse
[47] traça um quadro elucidativo da vida dos repórteres que cobrem
as campanhas presidenciais americanas:
Um grupo de jornalistas é destacado para
seguir um candidato durante semanas ou meses, como um conjunto de cães seguindo
uma raposa. Acomodados no mesmo avião ou autocarro, comem, bebem, jogam e comparam
as suas notas com o mesmo conjunto de colegas, semana após semana.
...Este grupo é muito hierarquizado. Divide-se em cliques
– os repórteres de política nacional, que vão e vêm constantemente; os repórteres
de campanha dos grandes e prestigiados jornais e os de pequenos jornais; o pessoal
das agências, os correspondentes de televisão; e outros grupos tendo em comum
a idade ou amizades antigas. Os mais experientes repórteres de política nacional,
as agências e os repórteres dos grandes jornais muitas vezes nem sabem os nomes
dos repórteres dos pequenos jornais que ficam num plano inferior desta hierarquia.
Mas todos eles se alimentam dos mesmos relatórios das pools, dos mesmos press
releases, dos mesmos discursos do candidato. O grupo anda isolado na mesma aldeia
volante. Após algum tempo começa a acreditar nos mesmos rumores, a subscrever
as mesmas teorias e a escrever as mesmas "estórias".
...Toda a gente denuncia o “jornalismo de
pacote" mesmo os que incluem o "pacote". Todos consideram isso
uma manipulação e prostituição em cada campanha.
A "cultura da sala de imprensa" é
também visível, por exemplo, durante a cobertura de grandes reuniões internacionais.
Na medida em que os jornalistas raramente têm acesso directo às discussões travadas
nessas reuniões, concentram-se nas salas de imprensa onde a informação chega
através de confidências ou "briefings" dos políticos que participam
nas reuniões ou de funcionários que foram, eles próprios, objecto de "briefing".
Ora, dado o pouco tempo de que os jornalistas dispõem para confirmar e trabalhar
essas informações e a dificuldade de acesso rápido a outras fontes documentais
ou pessoais, a informação fornecida é assimilada por todos os jornalistas presentes,
alguns dos quais apenas lhe introduzem algumas "nuances" mais personalizadas.
Aliás, é sintomática a quantidade de "briefings" e conversas "informais"
que decorrem durante essas reuniões.
As salas de imprensa são, nestes eventos, os
locais mais frequentados pelos políticos e seus staffs.
7- Reflexão Final
Os media contribuem para a criação de uma determinada ordem social resultante
da divulgação de um tipo de conhecimento que emerge das suas relações com determinadas
fontes de informação. Os media produzem, assim, um certo tipo de pensamento
que se torna predominante na sociedade.
A arte de governar é a arte de fazer crer, diz Debray e os media são as tecnologias
da crença colectiva. O político tem de ocupar terreno, dia após dia, ou desaparece. [48] Um Estado que não ocupe o
pequeno écran perde “o contacto” com os eleitores. O Estado tem de produzir,
nos dias de hoje, uma quantidade crescente de imagens e de sons.
É o espectáculo do Estado que faz o Estado, como o monumento faz a memória.
Um Estado que não possua nada para dar a ver e a ouvir, sem rituais, monumentos
e documentos, é “um nada”. Discursos, textos e imagens devem circular para se
tornar operacionais, a história descritiva e estática dos sinais do poder, a
história dos historiadores, estará incompleta sem o estudo dos meios de transmissão
desses signos, isto é, sem a história dos mediólogos [49] .
Este texto pretendeu ir além dos diagnósticos mais pessimistas que vêm os media
como agentes de perversão da política, tornando-a mais vulnerável às tentações
da demagogia, do espectáculo e da manipulação, ou mais optimistas e entusiásticos,
segundo os quais os media tornam a política mais transparente e mais democrática.
Mais importante que as opiniões definitivas de alguns ensaístas e editorialistas,
se torna, a meu ver, aprofundar a investigação sobre as relações entre os media
e as elites do poder, questão central à compreensão da realidade construída
pelos media e, portanto, à compreensão das sociedades contemporâneas.
Lisboa, Março de 1999
[1] Gaye Tuchman, Making News: A Study in the Construction of Reality (New York: Free Press, 1978)
[2] Gaye Tuchman, idem, ibidem.
[3] Os acontecimentos de rotina são realizações intencionais em que promotores e executores, por um lado, e jornalistas por outro, coincidem na necessidade de notícias, mesmo que essa coincidência nem sempre seja suficientemente clara, in Molotch, Harvey L. e Marilyn Lester (1974), “As notícias como procedimento intencional: acerca do uso estratégico de acontecimentos de rotina, acidentes e escândalos”, no livro de Nelson Traquina (org.) Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias” (1993), Lisboa, Veja.
[4] Herbert Gans (1980) Deciding What’s News, New York: Vintage Books
[5] Gaye Tuchman, idem, ibidem.
[6] Leon V. Sigal (1973) Reporters and Officials, Lexington, Mass.:D.C.Heath
[7] Jane Delano Brown, Carl R. Bybee, Stanley T. Wearden and Dulcie Murdock Straughan (1987)“Invisible Power: Newspaper News Sources and the Limits of Diversity" Journalism Quaterly, 64, p. 45-54
[8] Herbert Gans, idem, p. 145
[9] Gaye Tuchman, idem, ibidem
[10] Gregory Derville (1997) Le pouvoir des médias, Presses Universitaires de Grenoble, p. 107
[11] Patrick Champagne (1990) Faire l’opinion. Le nouveau jeu politique. Paris, Minuit
[12] Régis Debray (1993) L’Etat séducteur, Les révolutions médiologiques du pouvoir, Gallimard
[13] Régis Debray, idem, p. 30-31
[14] Derville, idem, p. 107 e passim
[15] Patrick Champagne, idem, ibidem
[16] Régis Debray, idem, ibidem
[17] Erickson Richard, Patricia M. Baranek, Janet B.L. Chan, (1989) University of Toronto Press, Negotiating Control: A study of News Sources (p. 1-33)
[18] Richard Erickson, Patricia M. Baranek, Janet B.L. Chan, idem, ibidem
[19] Michael Schudson (1978) Discovering the news: A Social History of American Newspapers, USA, Basic Books, Inc.
[20] Daniel J. Boorstin (1961), The Image: A Guide to Pseudo-Events in America, First Vintage Books Edition, (1992) (pág.11,12).
[21] Stephen Hess (1981) The Washington Reporters, The Brooking Institutions, p. 20
[22] Daniel J. Boorstin idem, p. 22
[23] Daniel J. Boorstin idem, p. 15
[24] Daniel J. Boorstin, idem, p. 26
[25] Daniel J. Boorstin, idem, p. 30
[26] Daniel J. Boorstin, idem, p. 34
[27] Patterson, Thomas E., (1997) Political Communication, 14:445-455, Taylor & Francis
[28] Edelman, Murray (1988) Constructing The Political Spectacle, The University of Chicago Press
[29] Pierre Bourdieu (1996) Sur la Television, Liber éditions, p. 29-39
[30] Columbia Journalism Revue, Maio/Junho, 1998
[31] Gregory Derville, idem, ibidem, p. 114
[32] Thomas Petterson, op. cit.
[33] Paul Eisenberg, Guilty until proven innocent is credo of journalistic "rat pack," Media Studies Center, 04.06.98
[34] Op. Cit.
[35] Op. Cit.
[36] Stephen Hess, idem, p. 2
[37] Stephen Hess, idem, ibidem; Gaye Tuchman,idem, ibidem
[38] Stephen Hess, idem, p.18-19
[39] Molotch, Harvey L. e Marilyn Lester (1974), “As notícias como procedimento intencional: acerca do uso estratégico de acontecimentos de rotina, acidentes e escândalos”, no livro de Nelson Traquina (org.) Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias” (1993), Lisboa, Vega
[40] Stephen Hess, idem, p. 2
[41] Philip Schlesinger (1989) From production to propaganda? in Media Culture and Society (SAGE, London, Newbury Park and New Delhi) Vol. 11, p. 283-306
[42] Normam Solomon refere-se à questão nos seguintes
termos:
O eufemismo continuou a existir como sempre que se tratou de cobrir acontecimentos
militares: Christiane Amanpour informou repetidamente os telespectadores da
CNN, que Baghdad tinha tido uma noite "dramática", falando (como
fizeram outros jornalistas) de "efeitos colaterais" sem mencionar
os iraquianos civis que morreram;
Durante
os bombardeamentos a Baghdad milhões de crianças iraquianas vagueavam sem
saber onde se abrigar e se sobreviveriam aos bombardeamentos, enquanto os
media americanos, a Casa Branca e o Congresso falavam de “uma operação de
justiça".
A maioria dos media americanos referiram-se aos bombardeamentos como virtuosos,
ainda que um pouco desagradáveis para alguns iraquianos.
As poucas denúncias que surgiram não lograram
cobertura dos media. Denis Halliday responsável pelo programa da ONU "Oil
For Food" classificou os bombardeamentos como uma fútil e irracional
acção de um homem desesperado, o que foi ignorado pelos media.
De acordo com os media o papel da
ONU no mundo é crucial quando o governo diz que é crucial e irrelevante quando
o governo diz que é irrelevante. Em 1991, quando a ONU autorizou a Guerra
do Golfo, os media americanos elevaram a ONU ao estatuto de supremo árbitro
na terra. Mas em 1998, quando os EUA não conseguiram o apoio da ONU para os
bombardeamentos contra o Iraque, a ONU foi desvalorizada. in Media Beat (17.12.98)
[43] Tuchman,idem, p. 84
[44] Um exemplo elucidativo são os briefings na Casa Branca em que o Presidente ou os seus porta-vozes possuem uma familiaridade com os repórteres que lhes permite chamá-los pelo nome próprio, introduzir pequenas anedotas e gracejos nas respostas e outro tipo de familiaridades que fazem parte da cultura comum de que fala Tuchman.
[45] Tuchman,idem, p. 224-225
[46] Michael Gurevitch, e Jay G. Blumler A Construção do Noticiário Eleitoral: Um Estudo de Observação na BBC in Traquina, Nelson, (Organiz.) (1993) "Jornalismo: Questões, Teorias e "Estórias" Comunicação e Linguagens, Lisboa, Vega
[47] Timothy Crouse, (1974) The Boys on the Bus, Ballantine Books, p. 7-11
[48] Régis Debray, idem, p. 49
[49] Débray, idem, ibidem