Anabela Gradim, Universidade
da Beira Interior
Maio de 2000
3º de 6
ficheiros
5.3.
Editorial; 5.4. Reportagem; 5.5. Fotojornalismo; 5.6. A legenda; 5.7. Faits-divers; 5.8. Opinião; 5.9. Crónica; 5.10. Entrevista; 5.11. Fotolegenda.
“Um jornal sem voz nem voto é como um homem sem juízo. Jornalismo que não
se sente capaz ou não pode dar orientação nem formular critérios é um
jornalismo sem uso da razão”
Luiz
Beltrão
O
editorial é um texto da responsabilidade da direcção do jornal, que deverá
acompanhar cada número da publicação, e que se debruça sobre os acontecimentos mais
marcantes da actualidade ou dessa edição do periódico, comentando, analisando,
exortando - em suma, fazendo opinião; não uma opinião qualquer, mas a
opinião do jornal.
E é esta
característica que distingue o editorial dos restantes textos de opinião do
jornal - ele exprime a opinião e a cultura da empresa como um todo, ao passo
que os textos de colunistas, colaboradores, e as participações dos leitores do
jornal comprometem apenas quem as emite, e não a redacção como um todo.
Está bem de ver que, só por isto, o editorial se constitui
como a secção mais nobre do jornal, e deve ser posto cuidado extremo na sua
elaboração.
Há jornais que têm mais
de um editorialista, e em tais casos, para além do editorial fixo do director,
as notas, comentários e textos que acompanham outras secções do jornal não são
assinadas, assim se vincando o carácter colectivo de tais tomadas de posição.
Na
imprensa portuguesa, regra geral, os jornais publicam apenas um editorial, da
responsabilidade do director ou elementos da direcção, prevalecendo, e muito
bem, a tradição de identificar o autor desses textos.
Depois de ter corrido
tanta tinta sobre a separação entre notícias e opinião, é lícito perguntar:
pode um jornal, tomado como entidade colectiva, ter opinião? A resposta é: não
só pode, como deve absolutamente tê-la.
O jornal não serve só para
relatar de forma isenta factos e acontecimentos, pode e deve pronunciar-se
sobre esses factos, tentando extrair deles o seu real significado, as relações
que estabelecem com outros acontecimentos, e as consequências que poderão vir a
ter na vida das pessoas — isto é atribuir-lhes uma dimensão radicalmente nova
em relação ao tratamento noticioso: a dimensão de profundidade.
Os leitores esperam que o
seu jornal se pronuncie, num ou mais editoriais, sobre as grandes questões que
agitam o mundo, o País ou a sua aldeia, e por isso um editorialista deve
assumir desassombradamente essa tarefa — emitir opiniões e orientações
rigorosas e fundamentadas, de preferência num texto curto e de leitura
agradável.
Não há nada mais patético
que o editorial uma no cravo, outra
na ferradura, que procura agradar a gregos e troianos, se recusa a tomar
qualquer posição e, bem espremido, nada diz. Ou ainda o seu congénere, o
editorial em órbita, aquele que já deixou há muito a órbita terrestre, e
fala de tudo menos do que interessa aos leitores e ao próprio jornal.
É certo que é difícil
fazer opinião, e opinião investida das responsabilidades que um editorial lhe
comete ainda mais, mas ela deve absolutamente ser feita. Editoriais
sistematicamente falhados descredibilizam o jornal e atraem o ridículo sobre
quem os assina e sobre a própria redacção. Se um jornal não tem coragem para se
pronunciar sobre o que se passa à sua volta, então não justifica as árvores
abatidas por ano para que possa circular, e melhor fora que fechasse.
O editorial “tem sempre de
tomar partido, pois sua finalidade é aconselhar e dirigir as opiniões dos
leitores. Não se pode reservar: tem de decidir-se. O jornal está, por essência,
comprometido a dizer em voz alta o que pensa. Eis porque se deve culpá-lo pelo
seu silêncio (...) Está-lhe vedado dar o silêncio por resposta ao
interrogatório da actualidade, ou dar uma resposta ambígua. A ambiguidade é
excusa de mau pagador. Ou medo à verdade. O cepticismo da acomodação. O jogo
bonito de não comprometer-se, de expôr os prós e os contra, embora sem desatar
o nó da dúvida, pode resultar engenhoso, mas adoece de estéril... Há jornais
que pelo seu afã de assepsia no critério permanecem muitas vezes em suspenso,
sesaber ao que ater-se. Isto não vale; o jornal não só tem que saber sempre ao
que se ater como ainda de manifestá-lo. Os editoriais insignificantes e fora de
compasso são uma escamoteação à boa fé dos leitores que os lêem com ânimo de
encontrar em suas linhas o caminho”[21].
Piedrahita refere ainda
como estratégia de muitos editorialistas, na sua aversão pelo que está próximo,
o que os americanos chamaram de “afganistanismo”: “El editorialista pontifica
con tranquilidad y seguridad de algo que nadie sabe. Nada pasará. Ninguna
personalidad importante se dará por aludida”![22]
É evidente que o jornal
toma uma posição firme, e chega a conclusões fundamentadas que corroboram essa
tomada de posição, mas essa firmeza deve ser adoçada com o mais intenso
respeito pelos leitores. Tal como na notícia, o editorialista sabe que o leitor
acabará por chegar às suas próprias conclusões, concordando ou não com ele, e
deve sempre atender a esse aspecto: são por isso totalmente desadequados os
editoriais dogmáticos, arrogantes, ou ainda os que de alguma forma insultam os
leitores. Como em tudo, a justa medida basta.
A realização de um
editorial coloca ainda questões éticas, por vezes delicadas, do ponto de vista
de quem o redige. Afinal, que opinião
pode um jornal ter? Todas as que não violem os princípios contidos no seu
estatuto editorial e que inspiram diariamente o trabalho da redacção. Também,
devido às especificidades deste tipo de texto, não pode, ao contrário do
simples artigo de opinião, radicalizar demasiado as questões, evitando
servir-se de muitos dos artifícios retóricos que tais textos utilizam para dar
força e vigor às suas prosas.
Por outro lado, o
editorialista, quando escreve, sabe muito bem que não pode, ao contário do
cronista, dar largas a todas as suas opiniões: só algumas serão aceitáveis do
ponto de vista daquilo que um editorial deve ser, e ele respeitará
escrupulosamente esses limites. Por exemplo, pode um editorialista ter opiniões
muito sólidas, e radicais, sobre o que deveria ter sucedido aos antigos
funcionários da PIDE/DGS após o 25 de Abril, mas deverá ter bom senso e
presença de espírito suficientes para perceber que não pode comprometer todo um
projecto editorial com tais opiniões. Neste sentido, ele produzirá um texto
adequado aos valores que o jornal defende — e que, neste caso concreto, são bem
mais tolerantes que os seus.
Outra questão pertinente,
e já aqui aflorada, é o que escrever? Manuel Piedrahita insurge-se
contra o editorial fóssil, o texto rebuscado cujo tema interessa ao próprio e
mais dois. A este respeito, Santo Agostinho conta uma anedota esclarecedora:
“Catão, tendo sido consultado por um certo homem que desejava conhecer o
significado de os ratos lhe terem roído as polainas, respondeu: isso nada tem
de extraordinário; portentoso fora que as polainas tivessem roído os ratos”[23].
E é essencialmente isto
que um editorial faz: procura estabelecer de forma esclarecida o significado dos acontecimentos, mas não
quaisquer uns. Aqui voltam a cruzar-se as componentes subjectivas da selecção
da notícia: deverá debruçar-se sobre acontecimentos pertinentes, prenhes de
consequências, com interesse inequívoco para a maioria dos leitores. O
editorial saberá tomar o pulso da opinião já formada, contradizê-la se for caso
disso; mas ainda aperceber-se da opinião que se está formando, do clima
cultural e expectativas que o seu público vive, e aí, nesse caldo de ideias
ainda em formação, intervir com lucidez, inteligência e rigor.
Quanto aos temas eles
deverão ser de interesse geral, estar próximos do coração ou preocupações do
público; deverão ser assuntos que o editorialista domine bem, e sobre os quais
possa emitir com sinceridade e convicção as opiniões que serão a opinião de
todo o jornal.
Ao texto propriamente
dito, aplicam-se-lhe as mesmas regras que regem qualquer artigo de opinião:
deverá ser claro, incisivo, vigoroso e assertivo. Em princípio deverá ater-se a
um único tema, ou uma única tese, expondo-o na abertura, argumentando no corpo
do texto, e concluindo, de forma lógica e necessária, pela posição inicialmente
adoptada.
É de extrema importância o
rigor da argumentação, a clareza das deduções, a lucidez da análise e a justeza
das conclusões. Falhas nestes aspectos são imperdáveis num texto de tanta
responsabilidade.
Todos os jornalistas sabem
que o tamanho não é proporcional à importância. O editorial deve ser um texto
relativamente curto, deverá ocupar sempre sensivelmente o mesmo espaço, e ser
escrito com graça, ritmo e vivacidade, utilizando um vocabulário rico e variado
que não abuse das frases longas. O editorial não pode ser entediante,
aborrecendo de morte os seus leitores; nem pedante, tratando-os como retardados
aos quais, do cimo da cátedra, é preciso ensinar coisas tão óbvias como apertar
os cordões dos sapatos.
Luiz Beltrão[24] divide os editoriais, quanto à topicalidade, em preventivo, que se
antecipa à realidade, avaliando situações ainda esboçadas e concluindo as
consequências; de acção, que acompanha uma ocorrência analisando as suas
causas e desenvolvimento no preciso momento em que sucedem; e de
consequência, quando se debruça, dedutivamente, sobre as repercussões e
consequências de um facto.
Já quanto ao conteúdo,
considera que o editorial pode ser informativo, esclarecendo o leitor
sobre factos ou situações e explirando aspectos que apenas ficaram implícitos
na notícia; normativo, que intenta convencer e exortar o leitor a
assumir um determninado rumo de acção; e ilustrativo, o que procura
aumentar a instrução dos leitores, chamando a atnção para questões do
quotidiano que costumam passar despercebidas.
No que toca ao estilo, podemos estar
perante um editorial intelectual quando este apela à razão dos seus
leitores, convidando-os a raciocinar e a seguirem uma determinada linha de argumentação; e emocional, quando apela à
sensibilidade do leitor, procurando tocar os seus instintos, crenças e
sentimentos mais arreigados, de uma forma emotiva e não totalmente racional.
A reportagem é o género jornalístico
mais nobre, havendo até quem o considere sublime e literariamente privilegiado.
Tal como na notícia, o propósito da reportagem é informar os seus leitores
sobre algum tipo de acontecimento — a diferença é que a reportagem adopta uma
estrutura diferenciada da notícia, procurando tratar o assunto exaustivamente,
segundo o ponto de vista adoptado, e em profundidade.
Neste género de texto, o jornalista
investe habitualmente muito mais tempo e recursos que na realização de uma
simples notícia. Como se trata de reproduzir um assunto em profundidade, ele
deverá ser cuidadosamente investigado, sendo objecto de cuidados diferenciados
na apresentação.
A reportagem já não é uma notícia do
tipo hard news mas uma prosa de grande fôlego que conta uma história com
o máximo de pormenores possíveis, incluindo muitas notas de cor local,
procurando levar os leitores o mais próximo possível do acontecimento, como se
eles próprios o pudessem estar também a viver.
É evidente que pelas suas
características as reportagens pedem títulos apelativos, leads
retardados, e não se conformam à técnica da pirâmide invertida; antes são
possíveis vários tipos de construção, entre os quais se contam a pirâmide
normal, o encadeamento de pirâmides invertidas ou, até, pirâmide nenhuma. Tudo
dependerá do talento e inspiração de quem a redige.
A reportagem supõe sempre a recolha
de informação in loco por parte do jornalista — não se fazem reportagens
pelo telefone —, permanece presa aos factos e não admite nem a intromissão da
opinião de quem escreve[25], nem que o jornalista se tome de liberdades poéticas relativamente aos
acontecimentos.
Pelas suas caractrísticas a
reportagem é um trabalho normalmente preparado com certa antecedência nas
redacções. . É durante esta fase de preparação que o jornalista decide, em
conjunto com editores e chefias, o tema do trabalho, o ângulo de abordagem a
utilizar, e ainda os passos que deverão ser seguidos durante a realização do
trabalho de campo. Significa isto que a
reportagem já está praticamente fechada ainda antes do jornalista pôr o pé fora
da Redacção? É evidente que não. A observação directa e a recolha de dados
desempenham um papel fundamental na execução da reportagem, e são estes que
ditarão essencialmente o seu carácter.
Por outro lado, ideias claras àcerca
do tema e do ângulo de abordagem não significam de modo algum que o jornalista
quando sai em reportagem se prive da frescura do olhar fenomenológico. Pelo
contrário, por mais difícil que isso possa parecer, os dois aspectos deverão
ser conjugados: ângulo pré-definido e saber olhar para tudo como se tudo fosse
novo, como se fosse a primeira vez que tais coisas são olhadas. Em caso de
conflito insanável entre as previsões e o real, este último aspecto toma sempre
a dianteira dos acontecimentos, sendo que o ângulo de abordagem do trabalho
deverá, muito simplesmente, ser alterado em função dos novos dados.
Daniel Ricardo deixa alguns
conselhos preciosos ao jornalista que se encontra a recolher informação para
uma reportagem. “Tente interessar-se, tão profundamente quanto possível, pelo
tema da reportagem. Não receie embrenhar-se na história. Se for caso disso,
meta-se na pele dos protagonistas, para compreender as razões que os levam a
agir de uma forma e não de outra, a emocionar-se, a sentir necessidade de esconder
ou, pelo contrário, explicar os seus actos. Mas não se deixe enredar pelos
acontecimentos ao ponto de confundir a realidade com a fantasia. Nem tome
partido. E recuse o maniqueísmo. Registe, com fidelidade, as declarações de
quem entrevistar, e ao tomar notas, esforce-se por reproduzir, objectivamente,
os factos que presenciou”[26].
As
fotografias que acompanham os textos de um jornal são de importância extrema -
estudos realizados sobre esta matéria provam que, depois dos títulos e antetítulos,
as fotos e respectivas legendas são a segunda coisa a que a esmagadora maioria
dos leitores atentam no jornal.
Além
de cumprirem propósitos estéticos, como embelezar as páginas, cortar a
monotonia dos extensos blocos de texto, afirmando-se pela sua qualidade e
beleza intrínseca, as fotografias devem ser jornalisticamente relevantes, isto
é, estarem relacionadas com o acontecimento que ilustram, provando-o,
comentando-o, ou revelando perspectivas novas àcerca dele.
Uma
boa foto fala por si (“vale mil palavras” - como é lugar comum dizer-se).
Confirma, comprova, verifica os dados apresentados na notícia; e, se bem
conseguida, deverá ser um objecto com valor estético autónomo.
Daqui
se depreende que a reportagem fotográfica é uma missão altamente especializada:
exige apurados conhecimentos técnicos: focagem, enquadramento, medições de luz,
velocidade de obturação — decisões que têm de ser tomadas num piscar de olhos;
e ainda um elevado sentido jornalístico: escolher a melhor imagem possível para
ilustrar um acontecimento.
A
fotografia jornalística não é uma chapa que se insere no jornal para ocupar
espaço; prima pela oportunidade e saberá captar o acontecimento que ilustra de
forma nítida e expressiva. O repórter fotográfico como que borboleteia à volta
do acontecimento, captando imagens vívidas e reais do mesmo. Tal significa,
entre outras coisas, que não fará — como nos álbuns de família ou casamentos —
fotos de pose; nem pedirá aos entrevistados que deixem de falar ou fazer o que
quer que estejam a fazer para serem fotografados, porque isso elimina de
imediato a espontaneidade e expressividade que deve pautar o seu trabalho.
Por
todas estas razões a reportagem fotográfica é de vital importância no jornal, e
o fotógrafo um jornalista com carteira profissional que se dedica a uma tarefa
altamente especializada, que exige talento e dedicação, e não um bate chapas.
Não basta carregar num botão para produzir uma reportagem fotográfica: há que
ter conhecimentos técnicos, sensibilidade e formação intelectual para fazê-lo.
Regra
geral o repórter fotográfico, depois de executados os serviços do dia, procede
à revelação das suas próprias fotos no laboratório fotográfico para esse efeito
instalado na redacção, selecciona as melhores e entrega-as ao editor ou jornalista
competente na matéria. Isto aplicava-se a todos os trabalhos fotográficos
produzidos no jornal, exceptuando-se por vezes as fotografia a cor, que
poderiam ser reveladas em laboratórios exteriores à empresa - já que esse
trabalho não é, como no caso do preto e branco, manual.
Agora,
bem recentemente, uma nova modalidade de fotografia fez a sua aparição no
mercado: a foto digital, que tende, se bem que não em exclusivo, a ser cada vez
mais utilizada.
As
vantagens são imensas: dispensa-se o complexo processo de revelação e
impressão, poupando muito tempo; e é possível — em Portugal já há jornais que o
praticam — enviar imagens de um acontecimento para a redacção ainda durante o
decurso do mesmo da forma mais simples: através de um computador portátil
ligado a um telemóvel.
A
fotografia digital também veio revolucionar o trabalho dos correspondentes do
jornal, permitindo o envio através de e-mail das fotos produzidas, e
dispensando o complicado e moroso esquema das tarifas, que era a forma
tradicional de fazer chegar imagens — rolos ou fotos — ao jornal.
Mas
nem tudo são vantagens, como reconhecem os profissionais do ramo. As máquinas
fotográficas digitais ainda são menos sofisticadas que as tradicionais, e ainda
estão bem longe de oferecer o potencial de uma máquina tradicional em lentes,
possibilidades e efeitos relativamente ao produto final.
Neste
sentido, são limitadoras do conteúdo e qualidade do produto apresentado — há preciosismos
que pura e simplesmente ainda não podem ser feitos com uma máquina digital. Mas
é quase certo que a evolução tecnológica venha a suprir estas — por ora —
desvantagens da câmara digital, e não faltam indicadores nesse sentido. A
mítica marca que máquinas fotográficas Leica acaba de dar um sinal inequívoco disso mesmo, lançando no mercado
a sua primeira câmara digital. Indício de que, mesmo apresentando uma qualidade
mais reduzida, a indústria já percebeu que nesta corrida ainda a procissão vai no adro.
Uma
palavra ainda sobre a paginação das fotografias: apesar da total liberdade de
que os editores devem gozar na colocação das fotos numa página - tentando
simplesmente não desperdiçar o potencial de uma boa imagem, e produzir páginas
visualmente atraentes — uma regra deve ser seguida: as fotografias, em relação
ao espaço delimitado do jornal, não devem ser colocada de forma a que os seus
elementos pareçam estar a cair da página.
Significa,
muito simplesmente, que a foto não pode ter pessoas ou coisas a olharem ou
dirigirem-se para fora da página - como se estivessem ansiosos por fugir dela,
prontos a saltar a qualquer momento. A foto poderá ser delimitada por uma
coluna de texto, ou voltada para o corpo de peça, como forma de evitar este
defeito. Há muitas fotografia, que pela página onde vão ser colocadas, e pela
paginação escolhida, provocam inevitavelmente este efeito. Quando tal ocorra,
depois de digitalizada, a foto deverá muito simplesmente ser invertida.
As legendas são pequeníssimos
textos, normalmente apenas uma frase, colocados na base inferior da fotografia;
à qual fazem referência, ilustrando, explicando ou simplesmente chamando a
atenção para os aspectos mais interessantes da imagem. O carácter da
legenda é eminentemente informativo, ou
deverá conter traços disso. Ela comenta e contextualiza determinado objecto
gráfico, fornecendo precisões que, por vezes, é impossível à imagem comunicar
por si só.
“Depois de oito horas de
negociação ininterrupta, Guterres encontrava-se visivelmente cansado”. A foto que acompanha tal legenda mostra de
facto um Guterres com olheiras, e visivelmente abalado pelo cansaço. Agora o
que a foto não mostra, e aos leitores seria impossível descobri-lo de outra forma
que não através da legenda, é que Guterres, às 19 horas de um determinado dia,
estava cansado depois de oito horas de trabalho seguido. A mesma imagem poderia
ter sido captada durante o mesmo acontecimento, mas às nove horas da manhã,
antes do início dos trabalhos, apresentando um Guterres igualmente cansado e
olheirento devido a uma noitada numa discoteca local.
Por isso as legendas fazem justiça
aos acontecimentos e imagens, explicando-os, contextualizando-os, e ajudando o
leitor a descobrir o real significado da imagem, significado esse que, de outra
forma, lhe poderia passar despercebido.
Nada é absolutamente óbvio, por mais
que assim nos possa parecer. Neste sentido, no Urbi et Orbi, mesmo uma
fotografia do reitor Santos Silva, personagem sobejamente conhecida da maioria
dos leitores, que integram a comunidade académica que a UBI é, deverá ser
legendada. É que um jornal chega a sítios que aqueles que o produzem jamais
poderão prever, é lido, perto ou longe, por pessoas com as mais diversas formações
e interesses; e muitos desses, encontrando tal foto sem legenda,
interrogar-se-iam justamente: “Mas afinal quem é este senhor?”
Poderá argumentar-se que as legendas
são, por vezes, desnecessárias ou redundantes, porque as peças, o corpo do
texto, ilustram perfeitamente aquilo de que a foto fala, mas nem este
argumento colhe. Ainda que tal suceda, nem todos os leitores irão de facto ler
a peça. Muitos ficam pelos títulos e imagens, saltando imediatamente para o
texto seguinte. Por isso a foto e respectiva legenda deverão sempre funcionar
como uma unidade significativa autónoma; que pode depois ser associada ao texto
que acompanha.
Exceptuam-se, na legendagem, as
fotografias da primeira página, que são acompanhadas de pequenos textos
funcionando eles próprios como legendas; e as fotos de colunistas e cronistas
de opinião, que em todos os números acompanham os seus escritos. Todas as
outras, deverão ser legendadas.
Como o próprio nome
indica, faits-divers são pequenas notícias de temática muito
diversificada que relatam aspectos curiosos do quotidiano. Incluem-se nesta
categoria os roubos, os acidentes, as coincidências, os casos de polícia, e,
regra geral, todo o facto suficientemente curioso, ou pela sua originalidade ou
pelas coincidências que envolve, susceptível de gerar uma notícia.
O faits-divers,
embora retenha traços informativos e uma ligação estreita com o real, não é
propriamente uma notícia. Os factos descritos são-no por serem aberrantes,
extraordinários, curiosos, exemplares, e não pelo seu carácter estritamente
informativo. O faits-divers é a pequena notícia de interesse humano
exemplar que apela ao lado voyeur e um pouco mórbido de todos os
leitores.
O
faits-divers é assim o pequeno facto curioso que funciona como uma
unidade fechada e praticamente se basta a si próprio. O interesse destas
pequenas notícias encontra-se muito mais ligado ao seu aspecto exemplar e
arquetípico, que propriamente ao facto de terem ocorrido ao Sr. B às tantas
horas de determinado dia.
O que caracteriza assim os
faits-divers é a originalidade, enquanto a sua inserção no jornal serve
fundamentalmente para distrair e desanuviar os leitores. “De uma maneira geral,
considera-se que se caracterizam pela originalidade os factos raros, insólitos,
extravagantes ou, simplesmente, burlescos. São os chamados faits-divers,
a partir dos quais se elaboram as notícias de distracção”.[27]
A opinião é um texto no
qual o seu autor exprime pontos de vista subjectivos relativamente a assuntos
que, por qualquer razão, despertaram o seu interesse. A amplitude dos estilos e
temáticas ao fazer opinião varia muito, podendo ir desde o texto leve e bem
humorado sobre os costumes, ou a falta deles, até à análise dura e rigorosa de
acontecimentos, relacionando factoa aparentemente díspares e deles retirando
deduções e conclusões.
Tanto no estilo mais
ligeiro como no mais lógico e silogístico o objectivo de quem faz opinião
continua a ser o mesmo: afirmar determinadas posições pessoais, aduzindo
argumentos a esse favor; e levar os outros a aderirem a tais teses ou
conclusões.
A opinião distingue-se
muito claramente da notícia porque não serve para fornecer informações novas,
ou dar notícias. O seu objectivo é lançar o debate, e esclarecer o público. Por
outro lado, através da utilização das capacidades de análise do opinante,
muitas vezes tais textos procuram chamar a atenção para determinados aspectos
das notícias que tendem a passar despercebidos, e que não podem, pela sua
natureza, ser tratados na própria notícia.
Os textos de opinião são pessoais e inteiramente subjectivos, mas também
trazem em si uma pretensão de validade se não universal, pelo menos
intersubjectivamente alargada. Quem escreve opinião está ciente da parcialidade
das suas posições, mas simultaneamente, admite e deseja que estas sejam
partilhadas e adoptadas por um grande número de receptores dessa opinião — é
esse o sentido da argumentação: converter, convencer, arregimentar.
Quase não há regras para escrever um
bom texto de opinião, e já vimos que quer quanto à forma quer quanto à temática
os textos podem variar muitíssimo. Uma coisa porém convém ter em mente: quem a
escreve deve ter algo importante para dizer aos leitores do jornal, e não deve
contentar-se com grafar um chouriço por esse ser, de todos, o género
mais fácil de manipular e falsificar, ao prescindir de investigação e
entrevista. De resto as opiniões valem o que vale quem as enuncia, e os
critérios editoriais da publicação deverão, evidentemente, ter isso em conta.
A crónica é um género que é habitual
amalgamar ou confundir com a opinião. As razões são várias, sendo que a mais
importante é que cronistas e opinion makers praticam por vezes
indistintamente as duas modalidades, em rubricas que recebem sempre o mesmo
nome. Por outro lado, textos há que estão no limite entre um e outro género, e
são eles próprios difíceis de classificar.
Regra geral a crónica é um texto
que, fazendo apelo à imaginação e às potencialidades estéticas da linguagem,
conta uma história ou debruça-se sobre factos curiosos do quotidiano. Já não é
um texto que obedeça a um rigoroso encadeamento lógico, nem tem propósitos
proselitistas — as crónicas só muito raramente exprimem opiniões ou têm por fim
convencer um auditório. São normalmente textos de leitura leve e agradável, sem
pretensões a grandes consequências políticas.
Outra diferença fundamental entre
opinião e crónica é que ao passo que a primeira utiliza sempre dados
solidamente ancorados no real — pois visa informar, embora não ex novo,
e convencer — a crónica apenas toma o real como pretexto, permitindo-se
liberdades poéticas, criadora e imaginativas que não são toleradas em nenhum
outro género.
Praticamente não há regras para
realizar uma crónica, e todavia um bom leitor reconhece imediatamente a preseça
de uma boa crónica: ela prende-o, propõe, sugere, diverte e é fonte de prazer e
estímulo intelectual.
A entrevista é o género
básico de toda a praxis jornalística. Em sentido lato, entrevista
denomina todos os contactos com uma fonte que são efectuados pelo jornalista
durante o processo de recolha de informações. Significa isto que é a entrevista
que fornece a matéria prima — os dados e informações — para quase todos os
géneros jornalísticos: da notícia à legenmda, ou opinião ou reportagem.
Mas
entrevista pode também ser entendida num sentido técnico mais restrito, quando
designa o género jornalístico autónomo conhecido como entrevista
pergunta-resposta. Tratam-se das grandes entrevistas de fundo a uma
personagem que são publicadas no jornal em forma de pergunta-resposta, ao invés
de sofrerem uma composição ou arranjo, como sucede na notícia ou reportagem.
Regra
geral, para este tipo de trabalho, em que há a preocupação de ser
minuciosamente fiel, o entrevistador socorre-se não apenas do seu bloco de
notas, mas também de um gravador. Por outro lado, a própria entrevista foi
cuidadosamente preparada com a antecedência devida, já que neste género as questões
a colocar ao entrevistado têm de ser certeiras e pertinentes, e se o não forem,
tais falhas, na passagem à forma escrita, tornar-se-ão evidentes aos olhos de
todos os leitores.
O número
de vezes que o jornal recorre a este género jornalístio depende do seu tipo de
público, do estilo da publicação e da sua área de influência. Todavia a entrevista pergunta-resposta deve
ser utilizada com parcimónia e só se justifica quando o tema abordado, ou o
perfil da personagem entrevistada, fazem parte dos interesses e preocupações já
estabelecidas dos leitores. Isto é, trata-se de um recurso de que convém não
abusar, que só deverá ser utilizado quando for, por uma razão ou outra,
verdadeiramente oportuno. Quando não o resultado são duas ou mais páginas sem
graça, cheias de densa prosa em que nenhum leitor se atreveria a tocar.
A
entrevista de pergunta-resposta deverá ser acompanhada por um lead, que
pode explicar a oportunidade do trabalho, ou aspectos mais marcantes da própria
entrevista; e ainda fornecer uma nota do tom e cor locais, fazeno referência ao
ambiente e ao estado de espírito dos participantes enquanto decorria o
trabalho.
É discutível se a
fotolegenda constitui propriamente um género, ou se é simplesmente o resultado do
amalgamar de todas as técnicas anteriores, com especial ênfase para as
utilizadas na crónica e faits-divers.
Por fotolegenda entende-se
aqui uma fotografia, sem título, comentada por um pequeno texto que se lhe
segue imediatamente, e que não constitui uma notícia no sentido estrito do
termo. Trata-se, normalmente, de aproveitar a felicidade de um apontamento
fotográfico, destacando esse elemento ao publicá-lo separadamente acompanhado
de um comentário.
Muitas podem ser as
motivações e o teor das fotolegendas. Consoante o material em apreço
produzir-se-ão textos sérios, comoventes, ternos, rigorosos, exortativos,
humorísticos, irónicos, surpreendidos... Sendo que o género que se tem vindo a
tornar mais comum na imprensa portuguesa é o que dela se serve para chamar a
atenção para um facto ou acontecimento pouco natural, exortando os responsáveis
a procurarem-lhe uma solução: o semáforo avariado, o buraco na estrada, as
obras com falta de segurança... ou ainda o tipo de notícia que serve de pequeno
agrado ao herói local: o padre que
trabalha na recuperação de toxicodependentes, o homem que tem 35 filhos, o
bombeiro que salvou uma criança da casa em chamas. Enfim, os temas e os motivos
da fotolegenda são infinitos, sendo este um género que pelo seu aspecto gráfico
e concisão quebra a monotonia das extensas notícias atraindo sempre um elevado
número de leitores.
[21]. In Beltrão, Luiz,
1980, Jornalismo Opinativo, Ed. Sulina, Porto Alegre, Brasil, p. 60..
[22]. Piedrahita, Manuel,
1993, Periodismo Moderno - Historia, Perspectivas y Tendencias,
Editorial Paraninfo, Madrid, p. 60.
[23]. Santo Agostinho, De doctrina
christiana, Obras Completas de Santo Agostinho, vol. XV, BAC - Biblioteca
de Autores Cristianos, La Editorial Catolica, Madrid, p. 129.
[24]. Ibidem, p. 58 e ss.
[25]. É extraordinariamente discutível,
este ponto. Muito mais que na notícia,
na reportagem podem ser perfeitamente sensíveis opiniões e valorações de fundo
do jornalista, especialmente na forma como constrói a descrição das personagens
ou descreve o local onde decorrem os acontecimentos. No interior da própria
reportagem há-as mais e menos opinativas, mas este é sem dúvida o género onde
todas as dificuldades objectividade versus subjectividade se tornam
sensíveis. Pode ainda assim utilizar--se o primeiro destes conceitos no sentido
em que a reportagem permanece presa aos acontecimentos e ambientes que a
motivaram, o que não sucede na fábula, novela ou conto. Isto é, há respeitar os
factos, e há violentá-los, levando-os a dizer aquilo que, claramente, não dizem.
[26]. In Daniel Ricardo, op.cit., p. 46.
[27]. In Daniel Ricardo, op. cit. p. 14.